segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A pressa é inimiga da saúde!


Na minha cabeça, o final de ano funciona como uma espécie de freio de mão. Conforme o ano vai se esvaindo, dá vontade de puxar esse freio, repensar sobre o que foi feito e o que se quer dali para frente. Esses dias que antecedem o Natal, por exemplo, apesar de serem normais de trabalho, tem um quê de recesso na minha cabeça.

Embora, na prática, eu nunca tenha conseguido me desligar da labuta nesse período e eventualmente trabalhe até mais nesses dias para compensar a parada no feriado ou por causa de um plantão de Natal ou de Ano Novo, sempre tive essa idéia de desaceleração de fim de ano na cabeça.

Pois hoje, em plena segunda-feira, há três dias no Natal, amanheci no susto, com mil tarefas engatilhadas, com telefone tocando sem parar, com mil solicitações, obrigações, cobrança de prazos, pedidos de entrevista, uma loucura. Entre um deslocamento e outro, pensei no Cazuza e sua célebre frase “o tempo não pára”.

Mas, ao longo do dia fiquei com uma sensação de vazio e comecei a me questionar... putz, por que mesmo ele não pára, hein? Quem me garante que essa luta frenética conta o relógio, mais uma chaga da sociedade moderna, faz bem pra alguém? E qual o pecado terrível que eu estaria cometendo se não cedesse a essa febre de ligeireza toda?

Por mais que tentemos, nunca, nunquinha mesmo, seremos mais velozes do que o tempo. E isso que temos nos especializado na corrida desenfreada que travamos contra ele. É laptop, celular, Iphone... estamos conectados 24 horas por dia, não ligamos o botão do off nem em sonho!

O dia não chegou nem na metade e eu já estou me sentindo exausta! Cansada, com sono, desgastada de verdade. Nessa corrida maluca na qual me enfiei, teve espaço até para uma batida estúpida na cabeça. Distraída enquanto falava ao celular, pensava no atraso para um compromisso e na tarefa que eu teria depois disso, calculei erroneamente o espaço entre minha cabeça e o portão de ferro pelo qual passava e, impaciente, burlei o tempo do portão mecânico e quis me desvencilhar por baixo para me adiantar na passagem. Resultado? Uma baita batida na cabeça e um rechonchudo galo cantando bem próximo à testa.

Aos poucos, a dor latejante na cabeça e aquela necessidade de ter pressa cederam espaço a uma sensação de impotência, de arrependimento, um vazio, um balde de água fria na minha cuca quente. O provérbio é mais do que certo: a pressa é totalmente inimiga da perfeição!
A expressão, que virou um dito famoso, é obra do jurista e político Rui Barbosa (1849-1923) e foi por ele utilizada para criticar a rapidez com que o Código Civil Brasileiro era redigido em 1902. Mais de cem anos depois, o dito me parece cada vez mais perfeito!
A pressa é inimiga da perfeição, do amor, do bom texto, da digestão, do sono, da saúde – mental e física -, e, sobretudo, de nós mesmos. A pressa causa ansiedade, taquicardia, tontura, sede.

Expire, pare um pouco, vença a briga contra o relógio. Ser veloz não significa ter pressa, fazer as coisas rapidamente não é garantia de que vamos terminá-las no menor espaço de tempo e sair na frente não garante, jamais, que chegaremos primeiro ou que teremos um bom lugar ao sol.

Ainda me faltam umas boas três horas de trabalho, já tenho agenda para bem cedo amanhã, mas, com certeza, não quero começar minha terça com um galo novo na cabeça...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O desasossego de Otelo


Quando adolescente, quis conhecer a obra de Shakespeare e, me lembro que, embora nunca tenha lido de fato uma obra completa do dramaturgo inglês, me senti muito atraída pela tragédia Otelo, na qual o protagonista matava a esposa, Desdêmona, por ciúmes indevido.

Pois hoje, pensando no modo de agir dos ciumentos, acabei me lembrando do pouco que li dessa obra. Pesquisando o romance no mundo encantado do Google, encontrei dois acessos que me chamaram a atenção. Um, dizia que o autor definia o ciúme como “o monstro dos olhos verdes” e dava um breve resumo do texto, lembrando que Otelo, deixa-se levar por um ciúme doentio do seu melhor amigo, Iago, com sua esposa, Desdêmona, e acaba por matar a inocente.

O outro link me fez descobrir que existe, na psiquiatria, uma patologia batizada com o nome do protagonista da obra: Síndrome de Otelo. Ela refere-se ao ciúme mórbido (ou patológico) e as emoções e comportamentos gerados a partir daí.

Não simpatizo com crises de ciúme, mas admito que sinto daqueles que amo, em uma proporção que considero salutar. Acredito que o ciúme é uma emoção extremamente comum, presente em todos nós – em graus diferentes -, mas não consigo conceber em que momento foge do normal para o patológico. E acho que os ciumentos de plantão tampouco conseguem. Isso porque, boa parte deles sequer se reconhece como ciumento em potencial.

Uma definição precisa aponta que o ciúme é um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento. Só por esse significado, pode-se perceber que o ciúme, por menor que seja, não pode ser uma coisa boa. Para nenhum dos envolvidos. A menos que o que seja objeto de ciúmes tenha uma baixa estima e se sinta lisonjeado e até envaidecido ao perceber que é alvo do ciúme.

Tentei vislumbrar algo de bom nesse sentimento, mas não consegui encontrar nada. O ser ciumento duvida, cria delírios, sofre com medo de perder, e, a cabo disso, acaba sofrendo com as conseqüências de suas próprias atitudes. Ou seja, acaba ameaçando a qualidade daquilo que tem, mesmo sem perceber.
Minha humilde e leiga percepção acerca do assunto me faz acreditar que o ciúme excessivo só pode ser originado pela existência de alguma insegurança pessoal, que acaba, muitas vezes, por afetar diretamente o respeito que se tem à pessoa amada. Só que, dessa forma, o ciúme dá sinais de instabilidade e idéia de posse. E isso não cheira bem. Nem na genialidade de Sheakpeare.

Dúvidas tomam conta da imaginação, fantasias são potencializadas e pode-se chegar a situações humilhantes, como mexer em bolsos e fuçar e-mails em busca de supostas provas. Isso sem falar nos que se põem a seguir os companheiros como se detetive fossem, na ânsia de comprovar o improvável, algo que sustente esse ciúme.

Nesses tempos loucos, já é tão difícil se dar uma chance, se permitir conhecer, ser feliz e ter paz. Se, apesar disso tudo, as pessoas ainda apostam no encontro, se conectam e tentam superar neuras, por que sucumbir a dúvidas e fraquezas?

Encerro com trechos de Otelo:


É o motivo... Não verterei seu sangue,
Não ferirei a sua pele branca
Mais alva do que a neve, mais macia
Que o alabastro dos túmulos...
Mas deverá morrer, para que nunca mais
Engane a mais ninguém!...


É a causa, sim, a causa, minh’alma,
Não a nomeio ante as castas estrelas:
É a causa; mas sangue não derramo
Nem mancho sua pele, alva de neve
E lisa como a glória do alabastro;
Porém tem de morrer, senão trai outros.


Hálito quente assim quase convence
A justiça a trair-se uma vez mais
Se ficar assim morta, vou matá-la,
E amá-la depois: mais uma a última,
É o doce mais fatal: agora choro,
Mas é pranto cruel, dor celestial
Que golpeia o que ama: ela desperta.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Crescimento desordenado e um país em desordem




Ontem li, estarrecida, que o presidente de todos os brasileiros havia se reunido com o centenário gênio da arquitetura Oscar Niemeyer para tratar da reforma geral do Palácio do Planalto. Segundo Lula, o prédio, que beira os 50 anos (fora inaugurado por Jucelino, em 1960), além de estar repleto de goteiras e mofo, sofreu tantas modificações de seus antecessores, que perdeu a configuração original. A reforma, que deve durar mais de um ano, deverá ser concluída a tempo das comemorações do cinqüentenário da capital federal, em abril de 2010.

Até aí tudo bem, nada mais justo do que revitalizar o patrimônio público, ainda mais se ele for considerado o endereço mais importante de Brasília e onde despacha o chefe de Estado, ministros, e trabalham cerca de 600 pessoas. Só que lá pelas tantas, em mais uma de suas crises verborrágicas, o presidente teria comparado o Palácio a uma favela e se queixado do excesso de salas e paredes.

Segundo O Estado de São Paulo, ele teria dito, literalmente, “Uma favela!”, ao se referir ao Palácio, no qual nem reside... já que é na Granja do Torto onde o presidente reúne a família, os amigos, em festas regadas a futebol e churrascada.

Coincidentemente, hoje me deparo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revela que, infelizmente, um terço dos municípios brasileiros está recheado de favelas. E mais, que são as regiões Norte e Sul (41,0%) que apresentam as proporções mais elevadas, seguidas pelo Nordeste (32,7%), Sudeste (29,7%) e Centro-Oeste (19,5%).

Será que somaram o Planalto a essa estatística?

Claro, a incidência de favelas é muito maior naquelas cidades com população e desigualdades mais altas. E, nesta dura realidade, a favelização é um caminho sem volta. O Brasil lidera, há anos, os rankings de habitações precárias na América Latina, fato mais do que comprovado em estudos da ONU e, cotidianamente, a olhos nus, quando temos um pouco mais de tempo e um pouco menos de medo de olhar através da janela de nossos carros.

O déficit habitacional por aqui é uma chaga e, por isso, o que o presidente Lula precisa é se preocupar com a criação de uma política efetiva para resolver a demanda por moradias populares. E, como quem não tem onde morar geralmente não tem o que comer, tampouco um ofício que lhe ajude a sair desse quadro, o acesso ao trabalho também deve ser prioridade.

As coisas estão difíceis, mas acredito que as pessoas podem ter mais estímulo e esperança para seguir na batalha a partir do momento em que tiverem moradias dignas. Antes de pensar em reformar o Palácio e nos milhões que serão gastos com a festa de 50 anos de Brasília, o presidente tem que criar linhas de financiamento especiais para incentivar os brasileiros de baixa renda a sair da favela e criar cooperativas habitacionais, subsidiar o trabalho de grupos de voluntários que dedicam-se à construção de moradias populares em diversos cantos do país.



A reforma do Palácio do Planalto, definitivamente, pode esperar!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fofocar






























“Falar da vida alheia nada mais é que uma tentativa de esquecer um pouco que a própria vida é uma porcaria”


Me deparei com essa frase pessimista- e com a qual não concordo,- de autoria desconhecida, ao fazer uma pesquisa na rede e fiquei pensando sobre o assunto. Discorrer sobre a vida alheia é uma atividade pré-histórica. Estudos dessa era dão conta que os toscos homens das cavernas já faziam isso, mas com objetivos mais nobres, obter informações sobre as fraquezas, medos e desejos dos vizinhos, seus adversários em potencial na seleção da vida naqueles tempos.

Pois bem, como naquela época não havia a escrita, a fofoca propriamente dita era passada oralmente e essa prática foi evoluindo e utilizada para derrubar imperadores, reis e rainhas, acabar com casamentos, incitar demissões e até arrasar a vida de pessoas inocentes (lembram-se do caso da Escola Base, em São Paulo???), tornando-se parte da história social da humanidade.

Pesquisando mais a fundo a “questã”, encontrei uma matéria da Veja de 2002, que diz que não importa o momento histórico, tampouco a cultura. O fato é que a humanidade não vive sem uma fofoquinha. O mais curioso é que, segundo a matéria, esse impulso não é movido só por inveja, falta do que fazer, mas por puro instinto de preservação da espécie. Aham...

O psicólogo americano Frank McAndrew, ouvido pela revista, chegou a dizer que a fofoca é parte universal da experiência humana e que os que se interessam pelo o que acontece com o umbigo do vizinho tendem a possuir
vantagem sobre os que não dão importância a esse tipo de informação. Talvez isso explique o fato de os sites e revistas de fofoca estarem sempre entre os mais acessados e vendidos no mundo.

E, cá pra nós, quem não perdeu alguns minutinhos hoje para divagar sobre a morte, por overdose, do picareta do ex-marido da Suzana Vieira? Hein????

O quê? Você não sabia? Pois é...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Quando a Terra vai parar???




Ao lançar em Roma o filme O Dia em Que a Terra Parou (de Scott Derrickson), no qual interpreta um extraterrestre humanóide, o ator Keanu Reeves profetizou o que há muito já sabemos, mas nos omitimos em acreditar: "talvez seja preciso um alienígena para nos explicar como agir para evitar a destruição do mundo".

Segundo Reeves, o filme conta a história do extraterrestre Klaatu, que vem à Terra para advertir aos dirigentes que o homem está se auto-destruindo com sua contínua ação contra o meio ambiente. O diretor complementa, dizendo que o filme é uma metáfora que adverte para o iminente fim do planeta. Pois bem, alguém tem alguma dúvida de que a catástrofe de Santa Catarina resulta também da ação (????) do homem contra a natureza???

As temperaturas continuam a aumenta, as geleiras derretem, quilômetros da Amazônia estão sumindo e espécies de animais extintas em decorrência do aquecimento global. E o que eu e você temos feito a respeito? N-A-D-A. Que vergonha, hein?

Acredito que nenhum de nós, e nem o mais insensível dos mortais, ficou incólume às cenas ocorridas em Blumenau e Itajaí, cidades que mais sofreram com os temporais da semana passada. São registros inacreditáveis de deslizamento de morros e encostas, da força da água da chuva, do transbordamento dos rios e do desalento de milhares de pessoas.

Em meio à catástrofe, vi na TV uma cena hollywoodiana. Centenas de gados mortos tentando escapar da força das águas. Parecia cena daquele filme Twister. Os bichos ficaram presos no arame farpado que separava a propriedade rural, suspensos pela barriga. Pareciam bonecos de pinbolim. Ontem, começaram a ser enterrados nas propriedades, outras imagens impressionantes... centenas de bois amontoados.

Vamos esperar a Terra parar para agir?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O lúdico esconde-esconde do século XXI







Ontem à noite, à procura de um brinquedo para o filho de uma amiga que faz aniversário hoje, me deparei com o absurdo dos absurdos: o Coelho Jojô. Pois o tal rabbit, meus amigos, anunciado como “o hit da Estrela para este Natal”, é nada mais, nada menos do que um coelho-robô que brinca de pegar com crianças a partir de três anos. Aham! DE P-E-G-A-R!

Ou seja... você, que por tantos e tantos anos alimentou satisfatoriamente sua criança interior, brincando ludicamente de pegar (ou de esconder ou de esconde-esconde) com colegas de colégio, primos, amiguinhos da rua, irmãos, pais, etc, não terá o privilégio de fazê-lo com seus futuros filhinhos.

Sim, porque se depender da vontade e do brilhantismo da corporação Estrela, isso ficará a cargo do simpático e azul Coelho Jojô, que com suas orelhas longas e espertas, tapa os olhos e conta até dez para dar tempo do amiguinho em questão se esconder...

Querem mais mostras do brilhantismo dessa indústria? Sabe como o coelho identifica o amiguinho? Porque o amigo de carne e osso carrega consigo uma cenourinha com sensor... ah! Pensou que o Jojô era bobo???? E tem mais, o robôrabbit sai à procura da criança, vasculha os arredores e, quando encontra o alvo, pede um beijinho como prêmio. Meu Deus!!!

Brinquedos deveriam divertir, entreter e, ao mesmo tempo, ensinar algo às crianças. Ajudar no desenvolvimento da vida social delas, exatamente o que acontecia com a brincadeira de pegar dos meus tempos de criança. O ato de brincar é de vital importância para a formação de qualquer indivíduo, por propiciar o desenvolvimento, estimular a imaginação, o raciocínio, a auto-estima.

O mercado não só está acabando com a naturalidade das antigas brincadeiras de nossa infância, com a espontaneidade de nossas crianças, como também colaborando para isolá-las, deixando-as cada vez mais “entretidas (?)” em casa, sozinhas, longe da saudável convivência infantil.
O que mais me espanta foi ver que, ao pesquisar a aberração-Jojô, um relise da Estrela- que neste ano completa 70 de atividade - comenta que o coelho encabeça a lista de lançamentos de produtos para a primeira infância, segmento que, segundo o presidente da empresa, Carlos Tilkian, “tem um grande potencial para crescer”.

Ou seja, a situação tende a piorar, segundo prevê o profeta Tilkian. Nossas crianças irão engordar presas em casa diante da televisão e dos computadores, poderão se isolar e se tornar cada vez mais deprimidas e individualistas. Mas, exatamente assim, alimentarão o mercado funesto das indústrias de brinquedo e, ao mesmo tempo, deixarão pais e mães felizes, descansados e tranqüilos enquanto vêem que os filhos têm “companhia” para brincar de esconde-esconde. É o lúdico esconde-esconde do século XXI!


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Fique longe das canções



Freqüentemente nós, gaúchos, ganhamos fama de bairristas. Alguns adoram dizer que nos achamos superiores, aquela história mesquinha de nos taxarem de “europeus em pleno Brasil” por termos melhores índices- hoje em dia contestados - de qualidade de vida, escolaridade, etc e tal.

Na maioria das vezes em que ouvi comentários desse tipo, minha reação foi uma só, franzir a testa e virar o nariz, achando ridículo principalmente os que concordavam com isso e, inclusive, incitavam um certo viés separatista, como se o melhor fosse extirpar o resto do país do Rio Grande do Sul... como se o restante, principalmente o nordeste brasileiro, fosse uma chaga para nós, eurogaúchos.

Pois bem... a partir de hoje não franzo mais a testa e, assumo minha condição bairrista, orgulhosa em dizer: Nico Nicolaiewsky é gaúcho e de Porto Alegre! Mazáááá, só podia ser mesmo!!

Que Nico era um ator e músico excepcional, autor de trilhas para teatro e cinema, pianista e acordeonista popularmente reconhecido através do Tangos e Tragédias, todos sabíamos. Mas que era capaz de produzir um disco e, posteriormente, um espetáculo tão visceral e emocionante como , não me passava pela cabeça.

Tinha lido críticas positivas ao show, mas confesso que me motivei a conferir o espetáculo a partir da propaganda que vi na televisão e que já dava pistas de que a trilha não me passaria em vão. Pois, sem medo de parecer piegas, admito que o que vivenciei naquela quente noite de sábado, diante do onipresente lustre de cristal do Teatro São Pedro, foi um turbilhão de emoções.

Não costumo ser daquelas pessoas que choram até vendo comercial de margarina, mas Nico me fez chorar. Compulsivamente, durante cerca de 15 minutos, na primeira parte do show. A beleza das letras, a reprodução de um coração-engrenagem suspenso no cenário, a iluminação certa e a apresentação melancólica e até sofrida do intérprete me pegaram em cheio.

Em pouco mais de uma hora e meia de espetáculo, me deleitei com o misto de imagens e sons que atingiam meu peito como um afiado punhal. Não me restou outra alternativa a não ser ceder àquela primeira lágrima que timidamente caía e seguir, a partir dali, e durante boa parte do show, fungando como criança magoada por não ter obtido o que queria.

As canções fazem o peito doer, a respiração falhar, são fruto do trabalho de um lobo solitário, às vezes desiludido, às vezes em busca daquilo que, no fundo, nenhum de nós sabe onde andará. A catarse é inevitável, arrebatadora, não há a mínima chance de sair impune do teatro. Não há a mínima chance de não parar para pensar.

Minha única saída foi correr e comprar o CD ali mesmo no foyer, voar para o carro e continuar o sarau sôfrego oferecido por Nico e, com orgulho, abrir a janela e gritar aos sete ventos que o gênio, sim, é gaúcho e porto-alegrense!

Aos desavisados, mas que ainda assim quiserem se aventurar, o autor adverte: se você quer sinceridade, fique longe das canções!