sexta-feira, 26 de junho de 2009

Perdas do showbusiness mundial




Em menos de 24 horas o mundo perdeu dois ícones do showbusiness. Primeiro, Farrah Fawcett, a pantera das panteras, que sucumbiu a um câncer. Depois, o freak megatalentoso Michael Jackson, que também se foi prematuramente. Os dois, cada um do sei jeito, influenciaram milhões de pessoas de diversas culturas, nacionalidades e idades, graças ao poder da indústria do entretenimento e aos próprios talentos.

Até eu tive o cabelo cortado em camadas e com aquele franjão à lá panteras. Me lembro de, ainda criança, assistir às meninas do Charlie, instalada na cama da minha mãe, e desejar me integrar ao trio quando crescesse, santa ingenuidade! Embora a minha preferida fosse a morena Jaclyn Smith, a Kelly, foi a loira Farrah que alcançou grande projeção, tornando-se sex symbol entre os anos 70 e 80 e ícone de beleza, desejada por homens e copiada por centenas de mulheres mundo afora.

Não me recordo dela em muitos outros trabalhos, à exceção de um filme água com açúcar recente, no qual fazia a esposa doente do Richard Gere, mas cumpriu seu papel, teve bem mais do que 15 minutos de fama e, com certeza, será lembrada por muitos e muitos fãs. Já Michael, foi um dos artistas mais talentosos, estranhos e perdidos dos últimos tempos. Dos tempos precoces dos Jackson´s Five a rei do pop, ficou muito mais na lembrança por suas esquisitices, pelo nariz camuflado, pelo desejo de mudar de cor do que pela genialidade de sua obra.

Um dos grandes showmen do mundo, vai ser sempre lembrado pela dança, pelos gritinhos e por implantar sucessos radiofônicos, como Billie Jean, Beat it e Thriller, hits que tocam até hoje nas pistas de dança. A minha preferida é Don't Stop 'til You Get Enough. Me lembro também da surpresa que cada novo clipe dele causava no mundo, pelos recursos tecnológicos e superação, que combinavam direitinho com cada melodia e letra. Quem vai esquecer dos rostos mudando magicamente em Black or White? Inesquecível! Prefiro lembrar do cantor por essas passagens do que pelos escândalos de pedofilia, pelos casamentos de faz de conta, pelos filhos que pôs no mundo de maneira misteriosa e pelo rancho Neverland.

Taí, vai ver Michael se achasse tão Peterpan que realmente acreditasse ser o principal representante de Neverland na Terra. E assim será. Toda a vez que penso nele, lembro duma história gostosa da minha infância. Eu devia ter uns 6, 7 anos e minha colega e amiga eterna Piu, comemorava seu aniversário. Ao som de Michael, claro, que estourava em todas as rádios e quase furava a eletrola (credo, que jurássica!!!) da festa, ela fez a mãe servir purê de batatas em potinhos, por acreditar que o refrão “Just beat it, beat it”, era “just purê, purê (pirê em gauchês)”. A criançada adorou a invenção, lógico!

Hilário e inesquecível para mim, como será sempre Michael Jackson, que do alto de sua sabedoria, largou a seguinte frase, ao ser questionado sobre a morte: “Se você entra neste mundo sabendo que é amado e deixa este mundo sabendo o mesmo, então você pode lidar com tudo o que acontece no meio”. E assim foi!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Tristes cenas da vida real


Essa manhã, faltando quase uma hora para o meu despertar obrigatório, sonhei que estava sendo atacada por um homem, que tentava me assaltar e usava um menino pedinte como isca. A cena, infelizmente corriqueira nos dias de hoje, é muito simples. O menino vem pedir dinheiro e quando a gente se distrai, vem o adulto e pá, rouba a bolsa da gente, muitas vezes usando de violência.

O sonho, como tantos outros, foi estranho, porque na cena principal eu estava sentada em um banco, em plena Avenida Ipiranga (uma das principais de Porto Alegre), de frente para o horrendo Arroio Dilúvio, também conhecido como Riacho Ipiranga, que corta a cidade levando metros cúbicos de lixo, areia e esgoto cloacal. A Avenida, uma das mais movimentadas daqui, jamais seria palco de um banco e eu, em sã consciência, não sentaria nunca para apreciar aquela vista.

No entanto, o sonho me pareceu tão real. Lembro do rosto do menino, entre oito e dez anos, negro, com bochechas marcadas e grandes olhos espertos, que me lembrava o personagem Acerola, de Douglas Silva, no Cidade dos Homens. Com um sorriso simpático, ele se aproximava e pedia um trocado. Quando eu tentava alcançar alguma moeda ao garoto, apareceu o adulto, mulato, magro, com aquela esperteza irônica que a gente cansa de ver nas ruas e se atraca na minha bolsa – uma bolsa roxa de couro que eu não tenho -, enquanto o menino tenta me segurar por um dos braços.

Lembro de, erroneamente, claro, reagir à tentativa de assalto, pegar o controle da minha garagem e bater com tudo no nariz do homem, que me largou instantaneamente, dando a senha pra eu sair correndo avenida afora. Nos momentos finais dos quais me recordo eu apareço correndo com os dois atrás e perco o fôlego, tenho um acesso de tosse e sento a garganta quase fechar. Acordei exatamente nessa hora, com o nariz trancado, a garganta idem, a respiração acelerada, tossindo em um claro ataque de rinite.

Passava das 6h e eu acordaria só às 7h, mas a agonia foi tanta que acabei levantando para beber água, tomar um antialérgico e me recompor. Claro que não dormi mais, apesar de ficar na cama, mas a imagem do rosto do guri do sonho não me sai da cabeça até agora. Era um rosto familiar, eu o tinha visto momentos antes de pegar no sono, em um dos quadros do Profissão Repórter, que ontem explorava o trabalho infantil.

O tal menino morava em Santo Amaro de Jesus, interior da Bahia, cidade conhecida por ser a maior produtora de fogos de artifício do Nordeste. Assim como as outras três crianças de sua família, com idades entre cinco e 11 anos no máximo, ele trabalhava na fabricação de explosivos individuais, tipo chumbinhos, que, produzidos em centenas, rendiam menos de R$ 1 à família.

A matéria era triste, mostrava a pobreza daquela gente, os rostos sofridos dos pequenos que, ao invés de estarem estudando ou brincando, amargavam mais de cinco horas diárias de trabalho em casa, para ajudar no sustento da família, correndo riscos de sofrer com problemas pela inalação de resíduos de pólvora e até mutilações pela explosão dos artefatos em suas pequenas mãozinhas.

A cena era triste, o quadro idem, mas o que mais me marcou foi o rosto daquele menino, que depois aparecera no meu sonho, outra vez fora da escola, da praça, das brincadeiras, do carinho de um ambiente familiar saudável ao qual toda a criança deveria estar sujeita. As imagens me perturbaram, assim como o sonho, mas apenas retrataram cenas da vida real de milhares e milhares de crianças que nos passam despercebidas diariamente nas sinaleiras e esquinas das grandes cidades. Me ficou uma melancolia daquelas, apesar do dia ensolarado de inverno...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cordas metálicas, plásticas, mucosas de Caetano


Começo a semana inquieta, com o cansaço do final de semana de trabalho, mas feliz como criança que acaba de ganhar um doce. O meu, na verdade, eu mesma me dei de presente e será deglutido com muita parcimônia, cuidado e atenção na quinta-feira: o show do Caetano!!

Não lembro exatamente quando passei a ouvir e venerar o baiano, mas foi entre os 14, 15 anos. Me apaixonei pela MPB no auge do grunge do Nirvana, dos metais do Guns and Roses, dos gritos e cabelões do Bon Jovi. Não me arrependo um milímetro sequer da troca! Nunca vou esquecer da reação incrédula das minhas colegas de colégio quando contei que não fazia a menor questão de ir ao show do Skid Row e que havia gasto toda a minha mesada em Cds (recém-surgidos por aqui) do Caetano!

Não entendo aqueles que têm ojeriza à MBP, que torcem o nariz para verdadeiros poetas como Gil, Caetano, Chico, Lenine. Confesso, inclusive, que deixei de levar a diante algumas paqueras que poderiam ter evoluído ao ver a primeira menção de cara feia para a nossa nobre música popular.

Não compro nem baixo discos nem vou a shows com a frequência que gostaria, até porque, com salário de jornalista, fica difícil. Mas não titubeei em deixar de pagar umas continhas do mês para comprar o ingresso do Caetano e, mais ainda, surpreender meu namorado com um pra ele me acompanhar, feliz da vida.

Cultura é investimento, é essencial, é até vital. E eu não ia me perdoar se deixasse passar mais um show em branco. O último ao qual assisti foi o Circuladô, há mais de 10 anos. Nesse tempo, tenho comprado os discos, lido os livros e ainda me surpreendido com cada entrevista ou frase dele que leio.
Ultimamente, Caetano tem reclamado de ter entrado na velhice, mas continua muito mais jovem do que muito trintão por aí. E charmoso, of course! Tenho ouvido o incansavelmente e me surpreendido com o poder de mutação desse gênio, que agora só quer é saber de rock. Na veia!
O show de quinta retratará o mais recente trabalho, Zie zie, e continua nessa nova linha, com o músico acompanhado pela banda que formara para o . Estou animadéssima, não posso negar! Minhas impressões contarei na sexta!!
Hoje, dando uma olhada no site oficial, pra ver se conseguia descobrir o setlist do show, me deparei com mais uma frase daquelas que só têm a força que merecem quando ditas por Caetano. Aí vai:

“Somos pessoas de gerações diferentes partilhando interesses musicais e humanos semelhantes. E com assustadas expectativas de futuro soando em nossas cordas metálicas, plásticas, mucosas” (Caetano Veloso).

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Suvenir de parede


Ontem, por oito votos contra um, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que jornalista não precisa mais ter diploma para exercer a profissão. Derrubando a exigência do diploma, os nobres ministros golpearam a qualidade da informação jornalística, mas agradaram aos donos das empresas de comunicação, que comemoraram a decisão.

Tudo bem que a obrigatoriedade do diploma foi imposta por um decreto-lei retrógrado, em plena ditadura militar, mas algumas das justificativas dadas pelos magistrados para derrubá-lo são inacreditáveis. Um deu a entender que as profissões que não trabalham diretamente com situações de risco à saúde, como é o caso do jornalismo, não precisariam estar regulamentadas por diploma. Então, posso presumir que o diploma de Direito, que os ministros detêm, também não têm razão de ser. Ou estou errada, ministros?

Alguns dos votos ficaram marcados na minha cabeça. Como do ministro Ricardo Lewandowski, que disse que o jornalismo prescinde de diploma e “só requer desses profissionais uma sólida cultura, domínio do idioma, formação ética e fidelidade aos fatos”. Bom, posso presumir, então, que qualquer cidadão de boa fé, mesmo que não tenha nem o ensino fundamental completo, poderá agora se dizer jornalista, não é? Que beleza!

Em outro voto, um dos ministros comparou o jornalista ao chefe de cozinha, para justificar que um excelente profissional desse ramo não precisa ser formado em culinária para exercer a profissão. Nada contra os cozinheiros, muito a favor, inclusive. Mas são realidades c-o-m-p-l-e-t-a-m-e-n-t-e diferentes.

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sustentou que a Constituição estabelece a liberdade de exercício de qualquer trabalho, desde que atendidas as qualificações profissionais e saiu com a famosa frase de que “o jornalismo configura uma atividade intelectual, não exigindo diploma de curso superior, tendo em vista a livre manifestação de pensamento, como corolário da liberdade de expressão, assegurada em todo estado democrático de direito”.
Único a votar favorável á obrigatoriedade do diploma, Marco Aurélio Mello teve a sanidade de tentar convencer os colegas de que jornalista tem de ter técnica para entrevistar, reportar e pesquisar. Mas, infelizmente, foi voto mais do que vencido.

Se antes dessa regulamentação, os casos de “picaretas” se dizendo jornalistas eram vistos aos montes, agora não teremos mais moral alguma para condená-los. É lamentável! Claro que os cursos universitários continuarão existindo, que diplomas serão entregues e que empresas sérias manterão a contratação de jornalistas formados para seus quadros, mas com certeza, o forte abalo sofrido pela categoria demorará a ser digerido.

Então, meus caros, retrocedemos à era em que o jornalismo era tratado como profissão secundária. Bem-vindos ao clube! A propósito, alguém quer um diploma de jornalista para pisar em cima???

terça-feira, 16 de junho de 2009

Obsolências do dia a dia


Ontem, na corrida para uma reunião fora, e na falta de um bloquinho ao alcance da mão, acabei apanhando uma agenda que repousa quase que abandonada na minha mesa de trabalho. Conforme a reunião ia avançando, me dei conta de que a pobre agenda, antes artigo de primeira grandeza para qualquer vivente, passou a ser totalmente relegada no nosso dia a dia.

A minha, em pleno mês de junho, está um pouco empoeirada pela falta de uso, deve ter no máximo 10 páginas preenchidas com alguma anotação, cálculo de despesas ou lembrete de aniversário de algum amigo. E só. Há uns três anos, se eu saísse do trabalho sem ela ou passássemos um final de semana afastadas, o céu desabaria sobre a minha cabeça. O caos estaria formado e eu me sentiria mais perdida do que cusco em procissão, completamente desamparada!

É o avanço dos tempos, reflexo puro do domínio crescente da tecnologia! Primeiro vieram as agendas eletrônicas, seguida pelos palmtops, agora o iphone. No meu caso, utilizo o bom e velho celular mesmo. Ele é minha agenda de bolso, de bolsa, de cabeceira. Me permite armazenar recados, avisos de compromissos importantes, fazer cálculos. Tudo o que a velha agenda de papel permitia no século passado, mais a facilidade de ouvir rádio, entrar na internet e ainda, pasmem, falar! E isso que o meu celular é simplinho e nem tem o tal do GPS, o MP3, etc.

Fiquei pensando no prejuízo que as fábricas de brindes têm tido nos últimos tempos. Renderia uma boa matéria de economia. Antes, empresa que distribuía agendas nos finais de ano se destacava. Conseguir uma era uma disputa só, artigo de luxo entre colegas de trabalho, que sentiam-se privilegiados e prestigiados por clientes, fornecedores, colaboradores.

Hoje, um exemplar como o meu, que é super bonitinho, inclusive, acaba virando bloco, peso de papel, enfeite ou até entulho de mesa mesmo. Já pensou o que será do celular que temos hoje daqui a uma década? Cruz credo, nem é bom pensar ainda!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A culpa é do Santo Antônio?


Uma amiga muito querida e bem humorada exibe hoje, em seu msn, o seguinte nickname: “Hoje é dia de congelar o Santo Antônio...detalhe: de cabeça para baixo!!!E esperar por um milagre!!”.

A frase pra lá de irônica, em pleno Dia dos Namorados, me fez rir, mas lembrar que há sim pessoas que se atucanam e até sofrem ao passar esse dia sozinhas Na minha opinião, esse grupo se esquece do principal: a gente tem é que se gostar, se amar. Compartilhar isso com o outro, a partir daí, será consequência.

Nunca fui muito namoradeira, passei poucos Dia dos Namorados acompanhadas e lembro, especialmente, dos dois anteriores, os quais passei rodeada de amigas na mesma situação, tomando uma cervejinha e dando risada do mundo!

Hoje vou passar o meu bem acompanhada, mas não tive nunca nenhum trauma dos 12 de junho em que estive solteira. E conheço muita gente que também está pouco se lixando. O Dia dos Namorados, na verdade, não passa de apenas mais uma data comercial, inventada sabe-se lá por quem, para fazer com que as pessoas gastem mais e tenham uma obrigação quase que moral de presentear seus amados, levá-los para jantar, etc e tal, em um dia específico.

Okay, isso tudo é bom demais, movimenta o comércio, mas não tem razão de ser. Quem ama, presenteia sem data marcada e sai para jantar em clima romântico quando bem entende. Mesmo porque, para conseguir uma mesa em um bom restaurante hoje, demanda reserva antecipada. A cena é a mesma a cada ano, filas e mais filas nas portas dos estabelecimentos. O mesmo ocorrendo nos motéis e hotéis da cidade.

A parte ruim da data é saber que solteiros que têm o costume de jantar fora sozinhos vão sim se sentir intimidados em manter essa rotina hoje, ou ir ao cinema ou fazer qualquer programação tendo apenas a si mesmos como companhia. E até aqueles que saírem acompanhados de amigos sentirão os olhares dos outros pesando. Bobagens que a sociedade nos impõe. Como se depois de certa idade fosse vergonhoso não estar incluído nas estatísticas dos que namoram, estão casados, têm filhos, etc.

Garanto que boa parte dos meus amigos queridos que estão livres e desimpedidos hoje estão assim simplesmente porque querem, amam suas próprias companhais e não desenvolveram neuras por conta da solteirice. Solteiros, sim, solitários nunca, esse é o lema!

Agora, para aqueles que já acordaram hoje de mau humor, xingando verdadeiramente o Santo Antônio, que torcem o nariz para os entregadores de flores que encontraram no caminho ou para o colega de trabalho que não pára de repetir seus planos românticos para hoje a noite, a dica é simples: desopile e relaxe!

Presenteie-se, compre um bom vinho, programe uma saída em turma. Nada de ficar pra baixo por uma data comercial. E tem mais, encontrar o sapato velho para o seu pé torto é tarefa que depende exclusivamente do fluxo das coisas. Se encontrar um namorado ou namorada for idéia fixa, pode ter certeza que o dito cujo não vai aparecer tão cedo, capicci?

A coisa tem que fluir, o destino tem de agir, mas a gente também tem de dar uma ajudinha! Que tal começar olhando pro lado, só pra variar? A noite de hoje, definitivamente, não é só dos enamorados, por isso, aproveite a sexta-feira como sempre! E nada de deixar o Santo Antônio de cabeça pra baixo, hein?




quarta-feira, 10 de junho de 2009

Doces lembranças


Poucas coisas me trazem lembranças tão agradáveis quanto a infância. A minha foi saudável, tranquila, feliz e tenho certeza que esses foram fatores determinantes para que eu me tornasse uma adulta sem traumas, neuras nem grandes conflitos.

Minhas memórias mais remotas, às vezes, vêm repletas de cheiros, imagens e até risos. Esses dias me peguei diante de uma cena congelada do meu aniversário de três anos. Lembro da agitação, da minha alegria e até do vestido quadriculado branco e laranja que eu usava.

Também me recordo corriqueiramente de estar no colo dos meus avós, de viajar com eles para a praia e ir dando formas às nuvens que cruzavam nosso caminho pela estrada. Lembro ainda de uma capa de chuva plastificada vermelha com bolinhas brancas que minha mãe me trouxe do Rio, com a sombrinha combinando, cuja qual eu queria vestir ao sinal do primeiro pingo de chuva, fosse verão ou inverno, combinando com galochas vermelhas, é claro!

Depois, me vêm algumas lembranças da escola, da convivência com meus irmãos, mas menos claras do que as dos meus primeiros três, quatro, cinco anos de vida. Estudos garantem que o cérebro só armazena estímulos que foram importantes para as crianças. O restante é descartado com o tempo. Pode estar aí a explicação das boas lembranças me serem de tempos tão remotos.

Digo isso porque ontem fui ao cinema e, ao comprar um simples pacotinho de chocolates na bomboniére, tive a impressão de estar voltando ao tempo, às sessões de cinema das matinês da minha infância. Ao abrir o pequeno – e a cada vez menor – pacote de Bib´s (um confeito de amendoim crocante coberto com chocolate, fabricado por uma empresa genuinamente gaúcha, não sei se é vendido fora daqui) me vi sentada em um dos antigos e imponentes cinemas de bairro que uma hora existiam em Porto Alegre, época em que os shopping centers só eram conhecidos de quem viajava ao Exterior.

Tive uma sensação tão boa, um déjà vu daqueles que só fazem bem, sabe? O barulho do pacotinho laminado, o formato do doce e até o cheiro do chocolate me trouxeram boas lembranças. A sensação foi tão confortante, tão forte e tão boa que o filme teve um gosto ainda mais especial. Aliás, o filme também era doce, o libanês Caramelo.

Às vezes, na correria do dia a dia, a gente esquece das coisas simples, aquelas que podem passar despercebidas para os outros, mas que detêm um significado tão valioso, mas tão valioso pra gente, que bastam estarem vivas nas nossas memórias para fazerem bem. Recomendo o exercício!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Felicidade plena X culto à beleza

Sou totalmente favorável às cirurgias plásticas, lipos, tratamentos e correções estéticas que podem fazer com que mulheres comuns ganhem um sopro extra de autoestima, passem a se gostar mais ou superem um trauma. No entanto, não consigo entender o que faz com que mulheres absolutamente lindas, como atrizes, modelos e candidatas a misses recorram a cirurgias para consertar algo que apenas elas e os olhos doentes e espertos de seus agentes, empresários e os tais missólogos veem.

Exemplos de procedimentos cirúrgicos mal-sucedidos ou que transfiguram e até mutilam belezas são muitos, é só procurar. Assim como falsos plásticos em atuação ou médicos gananciosos que aceitam fazer qualquer tipo de cirurgia para agradar às pacientes e engordar seus cofres.

Digo isso por conta da polêmica envolvendo a bela Bruna Felisberto, miss Rio Grande do Sul que, depois de amargar um sexto lugar no concurso Miss Brasil, resolveu abrir o berreiro e reclamar das cirurgias que fez para melhorar o que já estava bom.

Depois de passar por pelo menos oito procedimentos – além de duas cirurgias no nariz, colocação de silicone nos seios, lipoesculturas, botox, enxerto de gordura nas nádegas e maxilares, e uma abrasão com lixa de diamante para tirar marcas do rosto - Bruna admite estar incomodada com sua aparência e reclama que o nariz teria ficado muito pequeno. “Não reclamei antes porque não achava oportuno e não queria fazer do meu reinado um escândalo”, declarou à imprensa.

Já faz tempo que a busca da perfeição é regra nos concursos de beleza e no showbusiness e que a obsessão por corpos sarados e rostos impecáveis deprime e destrói a vida de milhares de mulheres. Claro que sempre temos como melhorar, mas o que importa mesmo é nos sentirmos belas e não apenas parecermos.

O culto à beleza é hoje algo imperativo, principalmente para as mulheres. O bonito é ser malhada, magra, bronzeada, loira. O que devo fazer, se não sou nenhuma Gisele, me jogar na frente do primeiro ônibus que avistar? Reconheço minhas imperfeições, sou a rainha da preguiça, mas preconizo o meu bem-estar acima de tudo.

Se a calça começa a apertar e o vestido não cai mais tão bem, fecho a boca e me controlo. Foi-se o tempo em que comer um doce a mais me tirava o sono. Aprendi a me permitir e a conviver comigo exatamente como eu sou, saudável com meus quilinhos a mais e sem paranóias das cicatrizes que ficaram de um acidente recente. Faria uma lipo, com certeza, não sou louca nem nada, mas ainda tenho muito a caminhar até, de fato, avançar ao ponto de adotar esse recurso – e nem sei se um dia o farei.

Volto a repetir, não condeno as inúmeras Brunas que se arrependem ao não se reconhecerem mais diante do espelho, depois de tantas plásticas, mas não consigo entender o que têm a ganhar apelando para o ataque direto aos cirurgiões que elas mesmas procuraram, em busca da beleza ideal que tanto almejam. Beleza ajuda, faz bem, obrigada, mas não sustenta a índole e o caráter, nem é garantia de felicidade plena para ninguém.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Idiossincrasias do reaprender-se


Quando se ama, nunca mais se é o mesmo de antes, pois passa-se a ser e a ter um pouco do outro também. Nos tornamos pessoas diferente e nos sentimos indestrutíveis. Problemas no trabalho? Brigas em família? Saldo negativo no banco? Tudo fica pequeno e sem tanta importância quando se está a dois.

Sentimos que, realmente, nunca mais estaremos sozinhos, mesmo quando isso implica em estar, fisicamente, a quilômetros de distância do ser amado. Rimos por qualquer coisa, planejamos a melhor forma de aproveitar o tempo juntos e pensamos sempre no outro a cada coisa boa que vemos, provamos ou que acontece. O sentimento de querer compartilhar torna-se cada vez maior e qualquer motivo é motivo para.

Se tentamos achar o par em meio à multidão, abrimos um sorriso largo ao identificar o rosto conhecido. É inevitável, não adianta tentar burlar a regra. Os abraços ficam cada vez mais apertados e a vontade de entrar, de verdade, no outro é só uma questão de tempo.

Quando se ama, os defeitos são minimizados e a qualidades multidimensionadas, a vontade de estar com o outro é tanta, que mesmo tendo a sorte de vê-lo diariamente, o tempo nunca parece suficiente. Temos de ouvir a voz durante o dia, trocar mensagens e e-mails e, mesmo assim, não há quem não se pegue contando no relógio os segundos que faltam para o desejado encontro.

Quando se ama, não se passa mais frio, acordar cedo não é problema e o braço do outro é cada vez mais necessário. Nos tornamos mais generosos, menos apegados às coisas e muito mais dispostos.

O caminho é longo? Não tem problema. O programa é de índio? Sem estresse. Se achava expert em determinado assunto? Ledo engano, sempre há o que aprender com o outro.

Nesses tempos de crise, financeira, moral e social, cheguei a uma conclusão. Os problemas, os medos, os “talvez” estão em segundo plano. Hoje, estar junto basta e a palavra de ordem é reaprender-se com o outro.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Amanhã vai ser outro dia...


Não há sentimento mais estranho do que o de decepcionar alguém de quem se gosta. Pais, amigos, irmãos, namorado, tanto faz. Às vezes, é coisa de um segundo, uma reação boba até, mas suficiente pra deixar na gente o peso de uma tonelada nas costas.

Me dei conta disso ontem. Não consegui fingir indiferença diante de uma determinada situação e tive uma reação rápida, porém negativa, que se sebressai até agora. Pode até ser que minha atitude não cause um estrago tão grande, e assim espero, mas foi suficiente para que eu visse, no semblante do outro, o mal que causei.

Não me considero uma pessoa intransigente nem difícil de conviver, mas sou humana. Sinto, reajo e cometo erros, como todo mundo. Continuo achando que ser sincera é a melhor opção sempre, embora isso implique em machucar os outros ou ir contra ao que esperam de mim. Na realidade, acho que esse é que é o problema, me preocupo demais com o que os outros esperam de mim e quando algo dá errado e eu acabo- raramente, diga-se de passagem - magoando alguém, a sensação que me abate é de total fracasso, pois machucar aqueles que amo não é corriqueiro para mim.

Tenho a nítida noção de que só conseguimos decepcionar quem, de fato, amamos e isso, infelizmente, faz parte da vida e do crescimento de qualquer um. No frigir dos ovos, o que eu quero é ser eu mesma e ser aceita do jeito que sou. E, na minha concepção, ser eu mesma implica em ser justa, honesta, íntegra, amiga e generosa com quem eu amo.

Por isso, entendo que o amor tem de sobressair à mágoa, à decepção e ao ressentimento. Senão, não vale a pena. Ainda bem que, como diz a música, amanhã vai ser outro dia e essa sensação estranha há de passar!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A metafísica do chapéu



Uma rápida descidinha até o térreo bastou para me lembrar de como as pessoas ficam mais elegantes no inverno. Ver os que chegam encasacados, com os narizes vermelhos de frio, mãos com luvas de couro ou de lã, cachecóis dos mais diferentes tipos e botas não bastava. Minha constatação foi baseada na observação da cabeça dos senhores, de idades variadas, que elegantemente sustentam seus chapéus.

Dos mais variados materiais, porém de cores sóbrias, como cinza, marrom e o indefectível preto, os chapéus dão um tom diplomático aos gaúchos. Podem ser de feltro, lã, ou fibra, mas impõem respeito da mesma forma aos seus donos, de qualquer jeito. É como se o acessório fosse um complemento do homem, assim como a bolsa o é para qualquer mulher. Há senhores que, com o intuito de proteger a cabeça do frio, passam o inverno inteiro com o mesmo chapéu, quase como se virasse complemento do próprio chapéu. Chega a ser engraçado.

Lembrei de um conto do Machado de Assis que li ainda no colégio. Em resumo, contava a história de uma mulher que reclamava do chapéu usado diariamente pelo marido. Àquela época, em pleno século XIX, chapéu era símbolo de status e a moça não achava o do cônjuge imponente ou a altura dele, insistia para que trocasse. Hoje, imagino eu, tentando fazer um paralelo com a nossa (fútil) realidade, o “acessório” que dá mais status ao homem moderno é o carro. No caso dos mais abastados - ou metidos a- seriam aquelas caminhonetas modernas, cheias de opcionais e faróis aerodinâmicos, os acessórios capazes de garantir aos homens o respeito, a admiração e até a inveja alheia. Engraçada a (in) evolução da espécie ao longo dos anos.

Pois, voltando aos chapéus, em uma rápida procura no mundo maravilhoso do Google, localizei o tal conto machadiano e dele reproduzo o trecho que mais me chamara atenção. Em determinado momento, o autor nos faz entender que a escolha do chapéu não é uma ação indiferente ao homem, mas regida por um princípio metafísico:

“o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab æterno; ninguém o pode trocar sem mutilação. E uma questão profunda que ainda não ocorreu a ninguém. Os sábios têm estudado tudo desde o astro até o verme, ou, para exemplificar bibliograficamente, desde Laplace e a Mecânica celeste até Darwin e o seu curioso livro das Minhocas, e, entretanto, não se lembraram ainda de parar diante do chapéu e estudá-lo por todos os lados. Ninguém advertiu que há uma metafísica do chapéu. Talvez eu escreva uma memória a este respeito” (Capítulo dos Chapéus, de Machado de Assis. Volume de conto, 1884).

Se os senhores que vi hoje vestindo alinhados chapéus, e que me fizeram lembrar do meu querido – e não menos elegante – avô, têm noção do poder metafísico desses acessórios, não sei, mas que se destacam dos demais exatamente por causa dele, disso não há dúvidas!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Amigos, amigos


Dieta equilibrada e exercícios físicos fazem bem à saúde, okay, mas o bem conviver também faz. Digo isso porque hoje, apesar do pouco tempo que tenho para almoço, me permiti sair e desfrutar da companhia de dois amigos queridos. O resultado não poderia ter sido melhor, muitos abraços, risos e conversa posta em dia.

Menos de meia hora foi suficiente para diminuir um pouco a saudade, atualizar a fofoca, desligar um pouco dos afazeres do dia e dar margem para planejarmos uma saidinha com mais tempo. O almoço delicioso e as companhias caíram como uma luva nesse dia em que o frio ainda surpreende o corpo desacostumado.

Não tenho grandes bens materiais, faço ginástica para conseguir virar o mês com o que ganho, mas posso, sim, com orgulho, me gabar dos amigos que tenho. Encho as duas mãos feliz da vida quando penso com quantos posso realmente contar. Alguns, fujões, mudaram de cidade, de Estado e até de país, mas nunca deixaram de estar próximos. E esses, quando vejo vez que outra, me parecem tão próximos, como se os tivesse visto na semana anterior.

Poucos, muito poucos mesmo, se perderam no meio do caminho, talvez por que não fossem tão amigos quanto eu pensara. Mas, em momentos realmente difíceis, os que importam estavam lá, prontos para me dar um abraço, um colo, ou me apoiar quando um simples olhar amigo foi suficiente pra mostrar que torciam por mim.

Sou egoísta com os meus amigos, muito até, mas também sou capaz de defendê-los com unhas e dentes, dar casa, comida e roupa lavada, como se diz. Afinal, são a família que escolhi e que, ao lado da biológica, têm lugar cativo no meu coração.

Tenho três desde os tempos do jardim de infância, uma que conheci na praia, uns da faculdade, muitos do trabalho e aqueles acrescentados vida afora mesmo, que nem sei bem da onde surgiram, mas sem os quais não me imagino mais tocando a vida. E, cá entre nós, precisa imaginar?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

S.O. S ivanhoé


E aos 46 do segundo tempo, o frio chegou ao Rio Grande! O veranico de maio se arrastou mais do que deveria e deixou as temperaturas agradáveis até a última semana de maio, finalmente, deu espaço à chuva, ao vento e, consequentemente, ao frio quase tardio.

Já não era sem tempo, termômetros marcando 10, 12 graus em Porto Alegre, com sensação térmica ainda menor, por causa do vento. O final de semana foi feio, daqueles de ficar em casa vendo filme, comendo chocolate e namorando bastante (quem disse que baixas temperaturas só trazem inconvenientes?), e me fez lembrar dos invernos da minha infância.

Não faz tanto tempo assim, mas lembro que o inverno era realmente frio, como deveria de ser, não fosse o aquecimento global, o desmatamento, etc e tal. Lembro de ir para a escola totalmente embrulhada, parecia uma boneca de neve, com pelo menos umas quatro camadas de roupa sob o casacão, mais luvas, cachecol, touquinha... e tinha um acessório bizarrísimo, que minha mãe insistia em por nas crianças, o tal do ivanhoé, um misto de touca e cachecol de lã, mais parecendo uma touca ninja, muito desconfortável, mas que apesar de pinicar, mantinha orelhas e pescoço aquecidos.

Pois o friozinho é bem-vindo com sol, faz a gente prezar boas companhias, um vinhozinho, uma sopa. O inverno é uma estação introspectiva, mais intimista. O que me espanta é a quantidade de gente que acha que por estar frio, deve matar o banho! Pelamor, a gente sua também, a pele cai, o cabelo fica sujo, da mesma forma que ocorre no verão, porém mais sutilmente. Digo isso porque hoje cedo peguei um elevador lotado e o cheiro de corpo sujo me deixou pasmaaaa.

Gente, não adianta colocar perfume e não se lavar! Não adianta, higiene tem que superar o frio. Meu chuveiro não é a gás, é casca pra aquecer nesses dias, mas eu não me imagino saindo pra trabalhar sem banho... não consigo nem cogitar! Deixar criança matar banho uma vez que outra no inverno, sem problemas. Há os que dizem, inclusive, que deve fazer bem à saúde. Mas adulto, burro velho, convenhamos!!! Gente, vamos nos conscientizar!

Mas se não tiver jeito e a saída for enforcar o banho (blérgs), o negócio é sair vestido de cebola mesmo, coberto por camadas e mais camadas de tecido. Numa dessas, vale até resgatar o velho e esquisito ivanhoé antiodor de cabeça suada. Os vizinhos de elevador e colegas de trabalho agradecem!