quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O amor que for


Blog abandonado, sinal de que o fim de ano tá um corre-corre danado, como diria Rita Lee. Por isso, nada melhor do que retomar a conversa aos poucos, começando com a reprodução de um texto bacana da jornalista Daniela Arrais, publicado na Gloss deste mês e no blog que ela mantém - e vale a pena seguir! -, O Dont Touch My Moleskine. Foto também tirada de lá, confere aí:


A gente passa a vida com medo. Medo de morrer, de ficar tempo demais no emprego errado, de não ter o colo dos amigos quando a gente mais precisa, de não fazer as viagens dos sonhos, de não conseguir comprar a casa própria, de não encontrar alguém para casar e ter filhos.

De todos os medos, o que mais me aflige é o de não conseguir amar. Porque vamos combinar: depois de um, dois, três corações partidos, fica fácil pensar que nada vai dar certo, que as relações viram DRs intermináveis que culminam em mágoas quase eternas.

Nos livros, nos filmes, nas músicas que a gente passa o tempo todo lendo, vendo e ouvindo, todo mundo sofre por amor. E a gente acha lindo, se identifica, quer viver aquela avalanche de paixão, de tesão, de loucura.

Quando chega a vida real, ah aí, não: todo mundo quer o conto de fadas. Quer encontrar no outro a imagem da perfeição, alguém sem um passado que diga muito, alguém que mal tenha um presente ( só se for com você) e cujo futuro esteja inevitavelmente atrelado ao seu e comece a ser planejado imediatamente.

Não, gente, menos! É preciso entender que a gente é a soma de tudo o que viveu, principalmente de tudo o que viveu com outras pessoas. São as histórias de amor que deixam a gente do jeito que é: às vezes mais madura, às vezes mais medrosa, às vezes mais otimista para buscar de novo, mas sempre diferente e mais experiente.

O que a gente é hoje é o que importa. A gente faz o que pode _e, na maioria das vezes, é de todo o coração.

Para o fim do ano que se aproxima, eu e 90% da população já começamos a fazer um balanço do que se passou. E cada vez mais acredito que os pedidos-clichês são os que a gente realmente necessita: paz, saúde e amor. Tudo para aguentar os furações. Afinal, por mais que o medo insista em se instalar, ainda vale mais uma paixão louca do que um coração congelado.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quer morar comigo?


Por IVAN MARTINS *

Talvez seja coincidência, mas parte dos meus amigos, jovens e não tão jovens, anda às voltas, neste momento, com uma velha pergunta: será hora de juntar as roupas, rachar as despesas e começar a Fase 2 da vida de casal?

Os motivos que levam ao movimento de unificação dos endereços são conhecidos. As pessoas descobrem, num dado momento, que passam mais tempos juntas do que separadas. Os pertences de cada um se movem, de uma casa para outra, em mochilas, sacolas, bolsas. É um saco. Gavetas que antes guardavam apenas cuecas ou apenas calcinhas transformam-se numa zona mista e conturbada. Objetos começam a sumir na confusão: meias, relógios, sandálias. A noite de domingo, quando tradicionalmente se faz a separação dos corpos, torna-se penosa, por motivos emocionais e práticos: quem quer fazer mala e levar tudo o que faz falta em casa? Quem quer dormir sem conchinha?

Uma alma romântica pode reclamar que estou reduzindo uma grande decisão afetiva a um punhado de questões cotidianas, mas não é isso. Eu já dou de barato que o romance existe. Só ele permite chegar ao estado de confusão de almas que antecede o morar junto. Quando ela vê na sua sala os programas de TV de que você não gosta, quando o conteúdo do nécessaire dela já se espalhou pelo seu banheiro, quando ela sabe, melhor do que você, onde a faxineira guarda a frigideira, o envolvimento está dado.
Ninguém deixa outro alguém entrar tão fundo na própria vida se não estiver apaixonado.

Pode acontecer por curtíssimo tempo, mas é raro. As pessoas só admitem na vida delas quem passa pelo controle de imigração dos sentimentos. O passaporte que vale aí é a paixão. Uma ou outra personalidade autoritária (ou carente) pode forçar a barra por algum tempo, mas a artificialidade não se sustenta. Fica na nossa vida quem a gente quer que fique. Quando não há afinidade, carinho e desejo, os sinais de desconforto são mais óbvios que uma ambulância em disparada.

Posto que as pessoas se gostem e que a vida delas já está (voluntariamente) embaralhada, começa a discussão sobre viver ou não viver junto - que está longe de ser simples. Morar com outro, não se iludam, é uma mudança radical, que exige generosidade. Quem vive junto partilha o espaço e o tempo, às vezes mais do que gostaria. Os românticos dirão: mas é bom estar junto e fazer as coisas de mãos dadas. Nem sempre, eu diria, não para todos. Há pessoas que precisam de distância mesmo daqueles que amam. E quem adora viver grudado também sente falta de silêncio e solidão. O outro frequentemente pesa, e isso pode ser destrutivo para a relação. Namorar, mesmo intensamente, ainda é conviver com o que há de melhor no parceiro, por tempo limitado.





Morar junto é abraçar o pacote inteiro, o tempo todo. Nem todo casal aguenta, nem todo mundo sabe viver assim. Unir os endereços pode significar, muitas vezes, separar as pessoas. Todo mundo conhece a história do namoro antigo que explodiu meses ou semanas depois das pessoas mudarem para o mesmo apartamento. Acontece toda hora. 

Morar junto, ademais, atrapalha um lado importante da vida das pessoas, o da autonomia. No mundo ideal, depois de sair da casa dos pais todos viveriam algum tempo sozinhos. O suficiente para aprender a cuidar de si mesmos. Para lidar sem pânico com a solidão. Isso prepara para viver a dois. Quem morou sozinho sabe que é gostoso acordar numa casa vazia e perambular de cueca sem ter de falar com ninguém. Não é como despertar abraçado na pessoa que a gente ama, mas também é bom – e tem de ser aprendido.

Há muito a ser dito contra e a favor da ideia de viver com alguém, mas o essencial é simples: a gente quer e não quer esse negócio. Uma parte de nós anseia por dividir, a outra quer ser dona de tudo – do tempo, do espaço, do corpo. Às vezes, prevalece a parte que deseja liberdade, então estar com outro nos oprime. Em outros momentos, predomina o desejo de ser dois, então dividir é uma delícia. Essa dicotomia, além de onipresente, me parece universal e insolúvel. Todo mundo tem dúvidas a respeito disso. As pessoas sonham com uma paixão tão arrebatadora que dissolva todas as incertezas, mas ela não existe. Diante da possibilidade de dividir o teto com alguém, as hesitações aparecem. Sempre aparecem, por mais maravilhosa que seja a sua consorte, por mais intenso que sejam seus sentimentos.

Eu vejo dois jeitos de lidar com isso, que na vida real se misturam.
O primeiro é racional: vá devagar, avance na medida do seu conforto interior, não tenha pressa e não se deixe pressionar (inteiramente) pelo desejo do outro. Converse. Não estar pronto não significa não gostar. Não querer agora não significa não querer nunca. Não há insulto em pedir tempo. Não há ofensa em ter dúvidas. Lembre: o outro lado também hesita, embora às vezes não diga, embora talvez nem perceba.

O outro jeito é emocional. Se atire, mergulhe, beije na boca. Você nunca vai ter 100% de certeza, então corra o risco, deixe-se levar pela correnteza. A vida é uma longa experiência e viver com alguém de quem se gosta não pode ser ruim. Aprende-se um monte: conviver, brigar, transar, dividir. O melhor jeito de ser adulto é com uma mulher de quem a gente gosta. Uma das melhores maneiras de se você mesmo é estar acompanhado. Se não der certo, não era para ser. Sem drama. Ficam as lembranças, se ganha panelas.

Se você não consegue tomar coragem por nenhuma das vias, se o tempo não aclara as suas dúvidas, então talvez não seja o caso. Não é mortal. A gente namora para ter prazer e para prospectar o terreno. Se a decisão for não avançar, tudo bem. Nem todo namoro termina em chá de panela. Conheço gente que namora em casas separadas há uma década, e é feliz. A vida não tem um formato obrigatório. Descobrir o seu formato é mais importante do que ter alguém para rachar o aluguel ou ver o Fantástico no domingo.

* Ivan Martins é colunista da Revista Época e escreve todas as quartas-feiras

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Alimentar espírito, corpo e alma


Sempre condenei quem gasta demais com tratamentos de beleza de nomes e efeitos mirabolantes ou quem está na lista de espera para comprar a última bolsa de uma coleção top de linha ou que dedica seus finais de semana a acordar às 5 da madrugada para pegar os primeiros raios de sol durante uma corrida. Pois bem, faço publicamente o meu mea culpa e peço desculpas sem vergonha nem cerimônia.

Sim, a gente erra, a gente pré-julga, a gente tasca a primeira opinião desmedida quem vem à cabeça e nem se preocupa como bem-estar alheio. É, porque se para muitos o bem-estar está em correr 10 quilômetros, para outros pode sim estar em adquirir coisas ou em experimentar novidades.

Me dei conta disso ao descobrir como é boa a sensação de cuidar de mim, algo que só eu mesma posso fazer de maneira plena. Não que eu praticasse o autodesapego, não mesmo, mas nos últimos meses tenho tido melhores condições de me dedicar mais a mim e ao que eu realmente posso fazer para me sentir mais saudável, equilibrada, inspirada.

Não falo apenas em termos estéticos não – quesitos que também ajudam, e muito nessa busca pelo autoagrado -, mas em termos de dedicação ao que se quer no momento. Consegui colocar em frente um projeto de estudo, passei a ter mais tempo para mim e para as pessoas que me importam, venci o sedentarismo, passei a comer melhor, a dar importância à prevenção, a consumir mais cultura e menos política, a preferir o aconchego à badalação e a fazer o que de melhor podemos para nós mesmas: respeitar nossas opiniões e vontades, acima de tudo!

O resultado desse meu novo momento não poderia ser mais positivo do que tem sido. Me pego às vezes animada por estar me dedicando a uma atividade física ou acordando às 7da manhã de sábado para ir à Universidade da mesma forma com que me delicio com um filme, um vinho, um programa em família, um doce.

Como sempre ouvi falar, tem coisas na vida que não passam de questões de costume, prática, hábito e de nos deixarmos levar por aquela vozinha interna que insiste em nos dar sinais de vez em quando. E isso, sem dúvida alguma, faz toda a diferença quando o caso é alimentar nosso espírito, corpo e alma, seja gastando com tratamentos de beleza, ter o prazer de comprar aquela bolsa da coleção top ou acordando às 5 da madrugada para pegar correr diante dos primeiros raios de sol! Aproveite!

sábado, 10 de setembro de 2011

Catavento




Especialmente dispersa. O tema da conversa ainda batendo na cabeça. Sensação de estar desconectada com o meu momento e vontades. Dúvidas giram como um catavento colorido.

Por que, afinal, as coisas são condicionadas? Se vai fazer isso, não pode fazer aquilo. Se gosta do vermelho, não pode gostar do azul. Se tem um plano, inviabiliza outro. Por quê?

O desconhecido também me assusta, mas isso não quer dizer que vou desistir de dar o próximo passo. Estagnação e frustração andam assustadoramente juntas.

Me cobram planejamento, mas nunca fui boa nisso. Já cheguei antes do tempo previsto desde o parto, pra terror dos que me esperavam para quase 3 meses depois.

Então, por que cargas d`água me dizem agora que tenho de escolher entre viver e deixar viver? Onde foi que perdi um fio dessa teia?

Me acusam de deslumbrada, mas onde está o deslumbre em querer mais, em querer superar, em querer respirar sem aparelhos?

Como pessoas tão imantadas podem, ao mesmo tempo, ter tantas diferenças?

Na esquina, por ora nebulosa, aponta uma oponente interrogação vermelha. Só sinto e ouço o barulho do vento.

De longe, a imagem turva deixa à mostra apenas um suave colorir que, de perto, revela um quase desfeito catavento.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

E afinal, o que querem as mulheres?


Texto emprestado é aquele que vale muito a pena ser compartilhado. E assim que tem que ser:

O romance acabou?
Diante do comportamento das mulheres, tenho um amigo que acha que sim

IVAN MARTINS*


Homens também se queixam. Ao contrário do que imaginam as mulheres, muitos deles estão perdidos e confusos com a forma atual dos relacionamentos. Muitos homens se ressentem da falta de relações mais claras, mais corteses, menos predatórias. Sofrem com isso. Tendo vivido experiências ruins e inesperadas, eles se perguntam, angustiados, se o romance acabou.

Conto uma história:

Tenho um amigo que acaba de se separar depois de 10 anos exatos de casamento. Está de volta ao mercado faz alguns meses e descobriu que as coisas mudaram. “As mulheres não são mais as mesmas”, ele concluiu. Meu amigo teve duas experiências parecidas, ambas ruins.

Na primeira, conheceu uma garota numa festa, passaram uma noite bacana – que teve romance, mas não chegou ao sexo – durante a qual ela insistiu, mais de uma vez, que eles deveriam voltar a se ver. Claro, ele disse. Havia gostado da garota. Trocaram telefones. Quando ele ligou dias, uns dias depois, ela atendeu de forma apressada e evasiva. Meu amigo deixou passar outro par de dias e ligou novamente. Desta vez marcaram um encontro, durante o qual ela se portou de forma distante e fria. Atônito, ele procurou a amiga que os havia apresentado e soube que a garota “tinha problemas com um ex-namorado”. Desistiu de procurá-la.

A outra experiência foi pior. Ele conheceu uma garota, transaram e começaram uma relação. Escaldado pela experiência anterior, diz que evitou procurar demais ou ligar demais ou parecer interessado demais. Funcionou, por algum tempo. Mas, estimulado pelas demonstrações de carinho, interesse e até ciúme da parte dela, ele diz que baixou a guarda e se deixou envolver. Então as coisas começaram a desandar. Diante de alguns perdidos, depois que ela sumiu um fim de semana inteiro, ele perguntou o que estava acontecendo e ouviu um clássico: “Não gosto de ser cobrada”. Daí foi ladeira abaixo até a ruptura, alguns dias e vários telefonemas infames depois. Essa parte todo mundo sabe como é.

Meu amigo está bravo, perplexo e pessimista.

Acha que durante o seu casamento ocorreu uma mutação que transformou as mulheres em bichos masculinizados. Elas não querem proximidade, intimidade, compromisso. O jeito tradicional de conquistá-las – oferecendo atenção, carinho e exclusividade – não funciona mais. Homens e mulheres dizem ao meu amigo que “essas meninas não sabem se relacionar”. Que o único jeito com elas é transar, tratar mal e manter distância. Assim elas ficam interessadas. “Têm pânico de envolvimento”, dizem a ele. Namoro como ele gostaria não existe mais, garantem. Relaxar gostosinho e viver um relacionamento apaixonado? Nem pensar: cada um tem duas ou três pessoas para consumo eventual, mas, a rigor, ninguém é de ninguém. É open bar, dizem a ele, mas não se pode levar nada para casa.

O que vocês acham disso?


Eu acho que estão dizendo ao meu amigo apenas meia verdade. Sim, as coisas mudaram nos últimos anos. As relações entre homens e mulheres se tornaram mais duras, mais ásperas. Sim, as mulheres masculinizaram seu comportamento. Muitas agem com o mesmo desapego e frieza com que os homens sempre agiram: pegam, transam, largam. É uma espécie de retribuição. É também o prazer de exercer seus desejos sem culpas e sem remorsos, sem amarras morais. Com descaso pelo outro, claro. É um mundo darwiniano em que todo mundo bate e todo mundo sofre. Quem pode mais chora menos. Mas qual a surpresa? Vivemos o individualismo triunfante em todos os aspectos da existência, não seria diferente nos relacionamentos afetivos: “Ema, ema, ema, cada um com seus problema”.

Mas essa é apenas metade da verdade.

A outra metade – eu acho - é que nem todas as garotas estão felizes. Muitas estão loucas para descer da roda-gigante. Também querem carinho e sossego. Precisam ser amadas, bem tratadas, bem comidas. Nunca ter ninguém na noite de sexta-feira é uma droga. Acordar de ressaca no sábado ao lado de um cara qualquer não é o melhor começo de um fim de semana. Andar por aí procurando, todo o tempo, procurando. Quem quer essa vida? Em vez disso, que tal ir dirigir até a praia de casal, viajar para o Rio no feriado, andar de mãos dadas em agosto na avenida Paulista, antes de entrar no cinema? Minha experiência sugere que boa parte das garotas está interessada em romance, mas nem sabe direito onde procurar – e talvez nem saibam o que fazer quando a possibilidade se apresenta. Há tanto lixo na nossa cabeça que às vezes fica difícil ser feliz, né?

Digo a vocês, portanto, o que eu tenho dito ao meu amigo: paciência.

A mulher certa aparece, as coisas rolam. Já aconteceu comigo, vejo acontecendo à minha volta o tempo todo. As gatas mais selvagens acabam convertidas à monogamia pela dose certa de atenção, sexo e sentimento. Ao menos temporariamente. As mulheres mais evasivas podem ser envolvidas por uma conversa sincera e inteligente – desde que ela venha na hora certa, talvez do cara certo. Há que tentar sem medo.

Importante é não se deixar levar pela misoginia corrente, provocada pela perplexidade e pelo ressentimento dos homens. As mulheres não viraram monstros egoístas. Elas viraram seres humanos mais parecidos conosco. Demonizar o comportamento feminino não ajuda a entender droga nenhuma. Assim como não adianta endeusá-las. Nem santas, nem putas e nem filhas da puta, elas são só garotas.


*IVAN MARTINS é colunista da Revista Época e assina todas as quartas uma das minhas colunas preferidas. Não deixem de ler na versão online!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O AMOR É ÚNICO


Esse texto, divulgado virtualmente como sendo de autoria do jornalista Arthur da Távola, tirei de um comentário postado no blog 3X30, que sigo e está destacado logo aí abaixo, dentre os de minha preferência.

Atual e preciso, ele diz tudo sobre a difícil arte da convivência a dois. Quem não tem ou teve seus 5 minutos de dúvida, de raiva, de implicância com o ser amado, que atire a primeira pedra. E, nessas horas, nada como se deparar com um texto verdadeiro como esse. Boa leitura!


O AMOR É ÚNICO como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.

A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue,
A SEDUÇÃO tem que ser ininterrupta...

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia
SER ETERNA.

Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, RESPEITO.

Agressões zero.
Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver BOM HUMOR para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades.
Tem que saber levar.

Amar só é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar.
Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem , visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um.
Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão.

E que amar "solamente", não basta.
Entre homens e mulheres que acham que
O AMOR É SÓ POESIA, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois.
Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.

O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.
Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Perdas e ganhos


Daqui a uma semana completa um mês da morte do meu pai e desde o ocorrido tenho procurado assimilar o fato, a minha reação e a dos outros e o que essa perda passa a representar, da minha maneira.

Independente da relação que eu mantinha com ele nos últimos anos, é inegável que o sentimento que fica é o de perda de referências. Ou seja, parte de mim ou do que eu entendia da minha formação como indivíduo foi-se com ele. Daqui para a frente não sou a Fernanda filha do Bruno, sou a Fernanda apesar do Bruno. Sou a Fernanda além do Bruno e isso soa estranho.

Crescemos e nos formamos tendo nossos pais como referências diretas, independente do momento que vivemos e da relação que mantemos com eles posteriormente. O caminho que a vida de cada um de nós toma ou tomará é influenciado diretamente por isso, para o bem ou não, em algum momento determinado, não tem jeito.

Meu pai foi bastante presente na minha infância e na dos meus irmãos, mas da maneira dele. Passava a imagem do provedor da casa, estava por ali, era carinhoso e atencioso no limite dele. Poderia ter feito ou se doado mais? Sim, poderia, mas quem garante que não fez um esforço inexorável na visão dele? Cada um é de um jeito, não adianta, e esse jeito resulta da maneira como se viveu, como se foi tratado, ensinado, como a pessoa sentiu e agiu ao longo dos tempos.

Depois dos filhos adultos, ele continuou presente, porém distante. E as coisas tomaram o rumo que tinham de tomar, seguiram o fluxo que era pra ser. Independente de expor a minha opinião a respeito de como ele foi como pai fica a idéia de que ele foi, do jeito dele. As mágoas e alguns ressentimentos ficam, mas a tendência é que sejam minimizados com o passar do tempo. Eu e meus irmãos estamos bem, crescemos saudáveis, fortes e estamos seguindo o nosso rumo, independente disso tudo.

Com a ida repentina dele, cada um digeriu seus sentimentos de uma forma, afinal, há diferentes maneiras de viver e de reagir diante da perda. Aliás, somente ela nos torna iguais como seres humanos, já que todos passaremos por ela em algum momento.

As perdas permeiam o cotidiano sim, mas dependem não só delas mesmas, mas igualmente de nós, de como decidimos vivenciá-las, já que as reações diante do mesmo acontecimento variam de pessoa para pessoa. E é esse o ensinamento e o ganho que fica.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Defeito no cromossomo Y ou teimosia mesmo?


Ao longo dos meus anos de convivência com o gênero masculino – seja com pai, irmão, amigos, rolos, namorados -, pude perceber que algumas tarefas consideradas corriqueiras por nós, mulheres, são extremamente complicadas e até dignas de receber o carimbo de “ irrealizáveis” para eles.

Não sei se é mutação genética, um erro na divisão celular dos queridos, hábitos criados graças aos mimos excessivos das mamães, falta de coordenação para determinadas tarefas ou simplesmente malandragem.

Mas o fato é que – salvo raríssimas exceções - tarefas domésticas, por exemplo, não combinam com o cromossomo Y. O que deveria soar estranho, até porque pesquisas recentes mostraram que o genoma que torna um indivíduo macho está evoluindo mais depressa do que o restante do código genético humano, e isso deveria significar alguma coisa também melhorando ou evoluindo na conduta masculina, não é mesmo?

Brincadeiras a parte, me prestei a fazer uma pequena lista de tarefas que deveriam – mas não são - ser executadas com precisão por qualquer exemplar do homus sapiens que se preze. Aí vai:

pendurar a toalha molhada no varal;
jogas as roupas sujas no cesto adequado ou diretamente na máquina de lavar;
arrumar o lixo e levá-lo para o local de coleta;
esticar os lençóis para dormir em uma cama bem arrumadinha, como faz a maioria dos mortais;
organizar seu guarda-roupa e não fazer do chão uma extensão do mesmo;
repor a geladeira quando nota que algo de consumo comum acabou;
não deixar sapatos e tênis enormes jogados no meio dos cômodos;
limpar as lâminas de barbear depois do uso;
fechar tampas de potes e embalagens depois de abertas;
usar apenas um copo para beber água quando está em casa e não um a cada 5 minutos;
jogar embalagens vazias no lixo;




Notem que me recusei a elencar os já manjados itens “baixar a tábua da privada” e “mirar o xixi no lugar certo”, porque esses são princípios básicos da boa convivência entre X e Y. E você, tem mais alguma tarefa para completar a lista? Não seja tão condescendente com eles, reconheça que não escutam e repetem cotidianamente as mesmas falhas e reparta comigo suas próprias observações sobre tarefas impossíveis para cromossomos masculinos! ;-)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Incomodada ficava só a sua avó?

Engraçado como essa busca pela aparência e corpo perfeitos e o enfrentamento à ditadura da beleza movimentam o mercado cosmético, as academias, os consultórios médicos e, de quebra, ainda tiram o sono de milhares de pessoas. Ontem, lendo com atraso uma matéria de beleza da Marie Claire de março, me surpreendi com o lançamento de produtos, técnicas e cosméticos antes inimagináveis - pelo menos pra mim – e me peguei pensando até que ponto os efeitos colaterais, as contra-indicações e perigos desses tratamentos chegam às consumidoras.

Não condeno aquelas que estão em dia com todas essas novidades, que aguardam ansiosamente a chegada de tratamentos, que se preocupam e querem consumir esse tipo de informação –a té porque todos querem sempre melhorar -, mas me indago sobre a conveniência de certas atucanações e o perigo dessas ditas soluções mágicas que nos vendem como algo trivial.

Na verdade tudo isso me dá um certo medo e me faz pensar até que ponto as coisas não passaram dos limites. A sessão Soluções mágicas para problemas dramáticos traz alguns exemplos claros disso, na minha opinião. Entre as pérolas anunciadas, gel de ácido hialurônico que aumenta o busto em até dois números, “apenas” com anestesia local, ou o creme de manipulação que, aplicado duas vezes por dia, também elevará sua autoestima e decote em dois números. Gente, o que é isso?

Não sou uma pessoa desleixada, mas me considero desencanada quanto a tais assuntos. Tento manter uma atividade física e controlar a alimentação muito mais por questões de saúde do que vaidade, acho que todo o tipo de tratamento (invasivo ou não) é válido, que cada um sabe de si e tem o direito de fazer o que bem entende e de acordo com o seu bolso, mas me assusto, literalmente com a magnitude e a importância que tudo isso têm para certas pessoas. Tenho amigas que deixam o salário em clínicas de estética, que admitem passar por verdadeiras torturas em nome da beleza, que estão sempre se comparando com essa ou aquela modelo de perfeição e que alimentam essa cadeia maluca.





Posso até parecer antipática ou despeitada para alguns, mas não me interpretem mal. Não estou julgando, e sim questionando tudo isso e reforçando minha insegurança quanto à funcionalidade desses tratamentos e o real resultado disso para a saúde da gente – diferente de bem-estar. Certas coisas soam interessantes até, mas parecem irreais. Injetar gás carbônico no corpo (a famosa carboxiterapia), por exemplo, para melhorar a circulação e oxigenação dos tecidos e combater celulite, gordura localizada. Pra mim parece descrição de sessão de tortura e uma amiga garante que dói como se fosse.

Usar ultrasom para queimar gordura e melhorar as formas do corpo, o tal Ultrashape e seus derivados, até parece uma boa opção. Mas e a eliminação da tal gordura pelo organismo? Gera reação semelhante ao Xenical, aquele remédio pra emagrecer que foi moda anos atrás. Ou seja, deixa a pessoa refém do banheiro e impossibilitada de comer certos alimentos sem ter de ficar, literalmente, presa ao trono. Sem contar que ninguém fala do dano que essa “queima” toda pode gerar internamente.

Até que ponto esses tratamentos e soluções todos são eficientes? A longo prazo, quais os efeitos colaterais? Explicações nesse sentido eu não tenho achado e isso me assusta. Será que estou exagerando? Já pensou sobre isso? Valem a pena todos os riscos em nome da beleza exterior? É pra pensar!

terça-feira, 22 de março de 2011

Mais por mim


Hoje dei uma perambulada pelo prédio da minha antiga faculdade, uma das minhas moradas mais frequentes ao longo de quatro anos que passaram voando demais. Já fazem mais de 13 desde que saí da Faculdade dos Meios de Comunicação, a famosa Famecos da PUC gaúcha, e só agora tive oportunidade de voltar a circular por ali, nem sei bem por quê.

Mudança de cidade logo depois da formatura, trabalho no Interior, retorno a Porto Alegre, correria em cima de correria, alguns percalços para lembrar que somos de carne e osso e assim tem sido.

Retornei ao simpático e tantas vezes mal falado prédio 7 da PUC porque resolvi que era chegada a hora de priorizar projetos pessoais e, dentre as várias decisões tomadas, concorrer a uma vaga de pós-graduação foi o primeiro item da minha longa pauta . É o começo do que eu chamo do projeto “fazer mais por mim”, iniciado na virada do ano e repleto de tópicos em execução e ainda a executar.

No caso específico de voltar a estudar, me pareceu uma oportunidade de realmente me dedicar a algo em benefício próprio e, de quebra, reciclar, conhecer pessoas e trocar experiências. Caso não tenha êxito no projeto do pós, um curso de línguas ou outra atividade a escolher ocupará esse tempo que será só meu, dedicado a fazer algo exclusivamente por mim.

Me dei conta que passei muito dos últimos anos dedicando espaço demais ao trabalho, vivenciando mais a rotina dos outros do que a minha própria e, apesar de não ter sido nada sacrificante, digamos que foi apenas um momento. Escolhas que fiz, prioridades que tracei e que agora tenho a possibilidade de rever e remodelar.

Não vou negar que a simples ida à faculdade para a entrevista do pós mexeu comigo, deu uma sensação de nostalgia tremenda de ver aquela gurizada ansiosa pelos corredores, àvida por conhecimento, por novidades, pelas trocas e experiências que virão. Tá, confesso que me senti meio tiazona naquele ambiente, mas percebi que, apesar do tempo, jamais perdi aquela inquietude que só os estudantes têm. Ela sempre esteve aqui dentro, apenas um pouco abafada pela comodidade das coisas, do trabalho, da vida.

Ainda não sei se o projeto terá êxito - a resposta virá só no final de semana-, mas só o fato de a possibilidade ter me dado aquele friozinho na barriga, já valeu! Independente do resultado, fica aquela sensação de mais uma etapa a vencer e marcada a primeira fase desse meu reencontro com o que realmente importa: euzinha e minhas decisões. Aham!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mulheres com M maiúsculo


Ontem assisti a duas entrevistas com mulheres fortes que me surpreenderam positivamente. A primeira, no Fantástico, com a polêmica Lea T, a transexual filha do ex-jogador Toninho Cerezo, que ganhou o mundo após virar modelo internacional. A segunda, com Bruna Surfistinha (ou Raquel Pacheco), conduzida pela sempre competente Marília Gabriela.

Demonstrando uma coerência tremenda da sua condição, de como está inserida na sociedade e do quanto ainda terá de batalhar para se firmar como mulher– para si e para os outros- , Lea T falou sem constrangimentos da época em que ainda era Leandro, de como foi a aceitação da família, da descoberta de que era uma mulher presa no corpo masculino e das dificuldades de relacionar-se desde então.

Deixou claras a insatisfação e a dificuldade que passa por se assumir transexual em uma sociedade tão preconceituosa. Falou de que não consegue se relacionar com homens por conta disso, que recorre à terapia para se aceitar e que penou muito para conseguir vencer profissionalmente em um mundo onde a transex ou é prostituta ou não tem chance alguma no mercado de trabalho.

Me chamou a atenção seu olhar triste, sem brilho, e o semblante sério de quem deu o primeiro passo, mas ainda não está tão pronto para seguir adiante. Apesar de segura e coerente nas respostas, Lea T me pareceu uma menina acuada diante da vida, como se vivesse ainda pela metade, apesar do atual sucesso profissional e da decisão de levar sua bandeira adiante.

Já Raquel, que há oito anos abandonou a profissão e a vida de Bruna Surfistinha para casar e se dedicar aos livros autobiográficos e eróticos, me surpreendeu pela segurança nas respostas. Com apenas 26 anos, demonstra uma maturidade sem igual ao lembrar dos três anos como garota de programa e projetar o futuro próximo, no qual se vê assumindo as funções de mãe e psicóloga, nessa ordem.

Fala com naturalidade que a rebeldia juvenil, somada ao gosto pela prática do sexo, a motivou a sair de casa aos 17 anos e partir para a “vida fácil”. Conta que chegava a ganhar R$ 500 por dia de trabalho e que graças à profissão conseguiu manter o padrão de vida que tinha como menina de classe média. Com uma certa mágoa, conta que não fala com a família- irmãs e pais adotivos – desde que revelou sua antiga profissão, que sonha em retomar o contato com eles e que conseguiu superar a drogadição e o estigma da rejeição, cedendo ao amor de um cliente, hoje seu marido.

Mostrando desenvoltura, inteligência e boa educação, as respostas de Raquel demonstram que os três anos em que dedicou-se à prostituição não foram penosos, como muitos pensam. Ela sabia que a profissão só seria um recurso a ser utilizado por período determinado e se orgulha de ter conquistado e experimentado tudo o que quis naquele tempo.

Aproveitando a proximidade do lançamento do filme que contará sua história, tendo Débora Secco como protagonista, Raquel desmistificou a imagem que fazemos da garota de programa que é vítima da falta de melhores condições de vida ou que recorreu a isso por não ter outras oportunidades. Apesar de nova, ela sabia muito bem o que estava fazendo e o que fez por três anos, e não se arrepende!

Valente e fiel a seus princípios, Bruna Surfistinha só manteve o clichê no final da história, ao se entregar ao happy end desejado por dez entre dez meninas que se prostituem, largando a profissão e se casando com um antigo cliente. Duas excelentes entrevistas com mulheres interessantíssimas e corajosas em suas escolhas! Boas para fazer pensar nos problemas que, vez ou outra, nos paralisam, sem tamanha necessidade!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sem despedidas


Passando as mãos nos cabelos grisalhos dela, diante de toda a fragilidade que uma convalescença impõe a qualquer um - ainda mais idoso-, senti como se tivesse sido levada a um túnel do tempo, onde lembranças, imagens e acontecimentos se misturavam muito rapidamente.

A primeira memória que veio foi dela me fazendo um carinho na cabeça e depois beijando delicadamente cada um dos meus olhos, “para ficar mimosa”, como adorava repetir. Vieram também as inúmeras vezes em que coçava minhas costas antes de eu dormir, me colocava em seu colo durante a viagem para a praia para, juntas, observarmos as nuvens e nos divertirmos com o formato que víamos em cada uma delas.

Não pude esquecer dos deliciosos lanches da tarde que oferecia aos netos, dos bolos de chocolate, as rosquinhas quentinhas, dos chocolates e biscoitos que escondia em casa somente para nos receber.

Sempre alinhada, cheirosa, cabelo e unhas feitas, foi uma avó moderna, rejeitava os vestidos que as senhoras de sua idade costumavam usar, preferia jeans. Também rechaçava os cabelos naquele tom lilás-vovó e os mantinham sempre castanhos claros e curtos.

De seus passatempos prediletos, além de entreter os netos, as palavras-cruzadas e a televisão. Volta e meia me pedia ajuda pra descobrir uma palavra e, devido a falhas na alfabetização, perguntava se o termo se escrevia com “b de bolinha” ou “p de perninha”. Se preparava para ver o programa da Hebe, religiosamente, e adorava comenta-lo conosco no dia seguinte.

Quando nos visitava, vez que outra amassava uma nota de dinheiro na mão e metia sorrateiramente em um dos meus bolsos, como um regalo. Tirava da própria mesada pra presentear os netos. Logo que fiquei adulta, me dizia para sempre sair de casa arrumada e de batom, pois poderia encontrar meu príncipe encantado até na padaria. Também insistia para que usasse calcinha e sutiã do mesmo conjunto diariamente, por precaução.

Quando sofri um acidente há quatro anos e fiquei meses hospitalizada, levaram-na para me visitar, mesmo senil e já na cadeira de rodas. Confesso que aquele momento nunca sairá da minha memória. Sei que sou privilegiada de conviver há 35 anos com minha avó, mas vê-la como está - entrando e saindo de hospitais- e esteve nos últimos cinco anos tem sido muito difícil. A necessidade de colocar uma válvula no cérebro para drenagem, somada a algumas quedas da idade e ao Alzheimer repentino fez com minha querida vó Tereza ficasse irreconhecível.

Há algum tempo não fala nem anda, mas nos reconhece e demonstra o mesmo afeto de sempre através dos olhos e do sorriso. Confesso que os primeiros anos foram muito difíceis, custei a aceitar vê-la daquele jeito e minha primeira reação foi de afastamento. Aos poucos, as coisas foram se ajeitando e aprendi a conviver com aquela situação, voltando a visitá-la rotineiramente.

Dizem que avós são pais com açúcar, mas os meus são bem mais do que isso. Meus avós eu via diariamente desde bebê. Aguardava ansiosa por suas visitas à tarde, os almoços de final de semana, as temporadas em que ficávamos juntos na praia.

Quando comecei a trabalhar, uma das coisas que mais sentia era a falta deles durante a semana. Quando me mudei para o Interior então, sofria com a saudade e ligava todas as noites. Sempre foram muito presentes na minha vida, me dando colo, carinho, alento.

Pessoas assim, doces como minha vó Tereza, não mereciam sofrer. Por que não podem simplesmente envelhecer, dormir e um dia não mais acordar, sem a necessidade de sondas, injeções, máquinas e remédios? Cada ida minha ao hospital tem sido como uma despedida. Olho pra ela, tenho as lembranças felizes, faço um carinho e vou embora com o coração apertado. No dia seguinte, tudo de novo.

Ontem, minha avó piorou. O olhar está prostrado, teve de receber oxigênio, está inchada e com os rins trabalhando pouco. Não sorriu quando entrei, não respondeu aos meus carinhos, tampouco mexeu os olhos como se quisesse dizer algo. Demorei um pouco mais acarinhando seus cabelos antes de sair, acho que apesar de tudo, ela retribuiu da forma que pôde, e fechou os olhos também um pouco mais demoradamente enquanto minha mão passeava por sua testa.

A partir de hoje, quando for visitá-la novamente no hospital, decidi que não vou mais me despedir. Sei que ela estará comigo sempre e que bastará fechar os olhos para tê-la forte ao meu lado de novo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

É dia de feira


Quando os 30 ainda são distantes, a gente sempre pensa que nunca vai se aquietar, tamanha a pressa que tem de tudo: viver, amar, trabalhar, conhecer, aprender, beber, dançar, viajar, experimentar. Depois, quando os inta estão mais perto dos enta, constatamos que, de fato, o ritmo vai diminuindo e a pressa idem, dando chance a uma percepção da vida de maneira diferente.

Não, não deixamos de querer viver, amar, trabalhar, conhecer, aprender, beber, dançar, viajar, experimentar, muito pelo contrário, mas passamos a dar valor também a pequenos gestos e momentos. Ultimamente, uma animada reunião com amigos, um almoço gostoso com a minha mãe, uma tarde jogada no sofá vendo um bom filme, um passeio despretensioso de mãos dadas têm para mim muito mais valor do que qualquer balada.

Há menos de um mês, por exemplo, adquiri um novo hábito que tem alegrado o final de tarde das minhas terças-feiras: ir à feira. Pois é. Escolher frutas, legumes e verduras, provar queijos e iguarias, pechinchar com os feirantes se transformou em um programa e tanto! Semanalmente, eu e meu namorado fazemos a feira com prazer, encontramos amigos em meio às barracas, contamos alegres as moedinhas que ficam por lá e enchemos o porta-malas com orgulho da economia feita e do incentivo à dieta saudável.

Chegar em casa e descarregar as compras, lavar e guardá-las com cuidado e até pensar na melhor combinação para o jantar torna-se uma festa. Se acontece de trabalharmos até mais tarde ou de termos um compromisso que nos impeça de cumprir com nossa meta, ficamos até sentidos, sinal de que fazer a feira faz bem também à saúde mental!

Engraçado que eu não me imaginava gostando tanto das atividades triviais como agora. A rotina da casa – não sua arrumação, é claro -, tem me agradado demais e semanas em que não há compromissos que me tirem do sofá laranja à noite me deixam demasiadamente feliz! Não que eu rejeite convites, por favor!

Enfim, tenho percebido uma quietude interna, uma curiosidade por outros interesses antes inimagináveis, uma priorização diferente dos meus interesses, uma vontade de planejar mais e me arriscar menos. De me valorizar mais e de me doar menos, de me dividir menos e de me somar mais! Acho que, além de me sentir mais plena, finalmente, saí do meu inferno astral. E o ano está só começando. Aham!