terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O lúdico esconde-esconde do século XXI







Ontem à noite, à procura de um brinquedo para o filho de uma amiga que faz aniversário hoje, me deparei com o absurdo dos absurdos: o Coelho Jojô. Pois o tal rabbit, meus amigos, anunciado como “o hit da Estrela para este Natal”, é nada mais, nada menos do que um coelho-robô que brinca de pegar com crianças a partir de três anos. Aham! DE P-E-G-A-R!

Ou seja... você, que por tantos e tantos anos alimentou satisfatoriamente sua criança interior, brincando ludicamente de pegar (ou de esconder ou de esconde-esconde) com colegas de colégio, primos, amiguinhos da rua, irmãos, pais, etc, não terá o privilégio de fazê-lo com seus futuros filhinhos.

Sim, porque se depender da vontade e do brilhantismo da corporação Estrela, isso ficará a cargo do simpático e azul Coelho Jojô, que com suas orelhas longas e espertas, tapa os olhos e conta até dez para dar tempo do amiguinho em questão se esconder...

Querem mais mostras do brilhantismo dessa indústria? Sabe como o coelho identifica o amiguinho? Porque o amigo de carne e osso carrega consigo uma cenourinha com sensor... ah! Pensou que o Jojô era bobo???? E tem mais, o robôrabbit sai à procura da criança, vasculha os arredores e, quando encontra o alvo, pede um beijinho como prêmio. Meu Deus!!!

Brinquedos deveriam divertir, entreter e, ao mesmo tempo, ensinar algo às crianças. Ajudar no desenvolvimento da vida social delas, exatamente o que acontecia com a brincadeira de pegar dos meus tempos de criança. O ato de brincar é de vital importância para a formação de qualquer indivíduo, por propiciar o desenvolvimento, estimular a imaginação, o raciocínio, a auto-estima.

O mercado não só está acabando com a naturalidade das antigas brincadeiras de nossa infância, com a espontaneidade de nossas crianças, como também colaborando para isolá-las, deixando-as cada vez mais “entretidas (?)” em casa, sozinhas, longe da saudável convivência infantil.
O que mais me espanta foi ver que, ao pesquisar a aberração-Jojô, um relise da Estrela- que neste ano completa 70 de atividade - comenta que o coelho encabeça a lista de lançamentos de produtos para a primeira infância, segmento que, segundo o presidente da empresa, Carlos Tilkian, “tem um grande potencial para crescer”.

Ou seja, a situação tende a piorar, segundo prevê o profeta Tilkian. Nossas crianças irão engordar presas em casa diante da televisão e dos computadores, poderão se isolar e se tornar cada vez mais deprimidas e individualistas. Mas, exatamente assim, alimentarão o mercado funesto das indústrias de brinquedo e, ao mesmo tempo, deixarão pais e mães felizes, descansados e tranqüilos enquanto vêem que os filhos têm “companhia” para brincar de esconde-esconde. É o lúdico esconde-esconde do século XXI!


5 comentários:

Alvaro Neto disse...

Ninguém é obrigado a assinar Tv à cabo para os filhos, ou fazer o hábito de sair de casa perder o valor.

A indústria conta com a pobreza de espírito e falta de atitude do cidadão médio, mas a escolha final ainda é de cada um, graças a deus.

Marla Gass disse...

Que horror!!!!
Nós, como pais, temos a obrigação de estar atentos a esse tipo de brinquedo, que atende apenas aos interesses da indústria. E sempre pensar duas vezes antes de dar um algo que vai nos deixar sossegados, mas tornará nossos filhos crianças medrosas, anti-sociais, que acham que galinha e vaca são bichos de pelúcia ou personagens do Cocoricó, e não animais de verdade.

Marla Gass disse...

Álvaro, concordo em gênero, número e grau. A decisão sobre que tipo de crianças - e de adultos - serão nossos filhos está nas nossas mãos.

flavia:) disse...

Eu gostei do brinquedo!
Mas prefiro a Barbie que fala :P

Alvaro Neto disse...

Adorei!
Vamos Cantar?!?!