segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tudo novo- de novo!


Me dei conta que hoje inicia a última semana do ano e como nunca, nunquinha tive paciência para fazer balanços do ano que passou nem tampouco resoluções que não passam da primeira linha sobre o ano que virá, parei um pouco pra pensar em coisas que eu gostaria muito de realizar em 2011. Todas, por ora, não passam de ideias sem planejamento concreto, algumas, porém, mais presentes e recorrentes nos meus desejos do que outras.

Pela primeira vez em décadas encerrarei o ano sem certeza do meu futuro profissional, mas nunca me senti tão comprometida com a minha felicidade. Trocar o certo pelo duvidoso pode ser arriscado, dirão alguns, mas voltar a ter prazer com o que se faz, ter um tempo extra para desfrutar consigo mesmo ou sentir-se de alguma forma reconhecido não têm preço. Fecharei 2010 com esse gostinho, de reviravolta momentânea e com esperança de que eu possa encaminhar meu 2011 pelo mesmo rumo.

Para o ano que virá, desejo tempo e concentração para ler mais; persistência para manter uma atividade física com regularidade; condições para viajar a lazer; sorte, paciência e bolso para achar um cafofo pra chamar de meu; disposição para voltar a estudar e a me dedicar a alguma coisa que realmente faça a diferença pra mim – e não apenas para os outros!

Aproveitar mais e me dedicar menos aos outros é a lição que fica deste 2010, que foi exaustivo, mas de muito aprendizado. Se posso prometer alguma coisa por enquanto é que farei das tripas coração pra não me sabotar e pensar em mim, e somente em mim, em primeiro lugar.

Termino o ano seguindo à risca o que almejo para o meu futuro. O desafio, sei bem, será aplicar a teoria à prática nos 12 meses que virão pela frente, mas quem disse que não estou preparada pra isso? Um bom final de ano a todos os que acompanharam minhas mal traçadas linhas ao longo de 2010 e um novo ano repleto de saúde e conquistas!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Poderosa adaptação



Nas três últimas semanas uma mudança de emprego fez com que me desse conta de que a capacidade de adaptação é, sem sombra de dúvidas, uma das principais qualidades do ser humano.

Por obra do destino acabei caindo em um local onde reina o silêncio, onde as pessoas mal se falam e onde até um simples espirro passa incólume ao grande grupo. Não preciso nem dizer que os primeiros dias foram extremamente difíceis e que a minha vontade era de soltar um uivo no meio da sala, só pra ver se alguém esboçava alguma reação.

Sou uma pessoa tranquila, na minha, mas não estou nada habituada a ficar horas calada, nem tampouco tenho vocação pra Dalai Lama. Cheguei à conclusão de que o silêncio decorrente me tira do sério! Até me irrita! Pronto, falei.O mais engraçado é que estou em uma redação, divido a sala com outros nove colegas que, assim como eu, fizeram Comunicação Social. Entendem a gravidade disso? Comunicação- o que menos se faz aqui onde estou!

Enfim, foi percebendo isso que me dei conta dessa fantástica capacidade que temos de adaptação, de adequação. Três semanas passaram e posso até dizer que me habituei, mas sem me acostumar, porque aí já seria demais!

Não é a primeira nem será minha última mudança profissional- até porque essa tem validade até o final do ano -, mas é, com certeza, uma das mais curiosas. Mudança é, com certeza, algo inexorável, acontece quando a gente menos espera. E é exatamente nesse aspecto que reina soberana a nossa imensa capacidade de adaptação.

Sim, fico torcendo para que o telefone toque e eu possa ouvir alguma voz, dou boa tarde até para as paredes quando saio da sala e nunca usei tanto o msn e as redes sociais desde que aqui estou, talvez para reforçar a necessidade de me sentir parte de algum convívio durante o dia. Agora, é inegável que nunca o trabalho rendeu tanto como nesses dias, onde muito pouco me tira a atenção.

Já me sinto, aos poucos, adaptada ao silêncio, às raras conversas, às poucas vozes ao longo do dia. Do jeito que dá, tenho até conseguido puxar uma conversa aqui, rompido a regra e arrancado uma resposta ali, mas ainda sim estranhando muito a ordem das coisas.

Se adaptar-se é fazer com que uma coisa combine convenientemente com outra ou se acomode, posso dizer que estou no caminho certo e que ele não tem sido, de maneira alguma, de todo o ruim, não.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Já olhou para o seu umbigo hoje?


Nesse ritmo louco que conduz a vida da gente, nem sempre nos damos conta da importância dos pequenos momentos, das quebras de rotina, de alguns períodos de introspecção. Antigamente, usava-se muito a expressão “olhar para o próprio umbigo”. Hoje, com a correria do dia-a-dia, o domínio das novas tecnologias, das redes sociais e a velocidade que nos utilizamos dessas ferramentas, olhar para o próprio umbigo é o que menos fazemos.

Me dei conta de como é fundamental e necessário darmos uma pausa na rotina ao perceber a minha própria reação diante de situações recentes. Começou com o último feriado, no qual tive a oportunidade de parar e dar uma fugida da cidade. Foram menos de três dias, mas que valeram por meses. Pôr o pé na areia, contemplar o mar, caminhar pela praia e não pensar em mais nada, a não ser naquele momento, funcionou por várias sessões de terapia.

Às vezes impomos ou nos deixamos envolver por um ritmo de vida desenfreado, onde a pressa e a ansiedade imperam de tal maneira, que passamos a protelar ou diminuir os momentos de lazer, os cuidados com nós mesmos, a saúde e até as questões pessoais.

Olhando para o meu umbigo depois disso, em meio ao retorno à vida real, completei a “terapia” me dando ao luxo de destinar uma hora do meu dia para uma sessão de massoterapia. Não preciso nem dizer que a dor física comprovou o estresse, os nós nas costas e quadril, o cansaço acumulado que se arrasta.

Nos dias que seguiram me obriguei a reservar um espacinho da agenda para cuidar de mim e me mimar. Uma ida ao salão, uma volta no shopping, uma caminhada no sol, uma parada para um suco no meio da tarde, uma passada na livraria, um abraço mais apertado em quem se gosta, um almocinho gostoso.

Não adianta, às vezes o corpo e a alma avisam que é hora de dar uma puxada no freio de mão, se permitir e, principalmente, respeitar a sua necessidade naquele momento. Não se deixe em último plano, sua sanidade mental agradecerá!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Confiança no fluxo das coisas


Volta e meia menciono o fluxo das coisas, como aprendi a chamar o tal curso natural das coisas, como justificativa para reverter algum pensamento mais negativo ou até para buscar um entendimento sobre a razão de certos acontecimentos. Acho, realmente, que confiar no fluxo das coisas é uma boa maneira de não estagnarmos diante das dúvidas que aparecem nem de nos surpreendermos demais com certas ocorrências.

Ontem, lendo uma matéria do jornal local aqui de Porto Alegre, reforcei ainda mais essas minhas convicções. O texto contava o infortúnio de uma senhora aqui do Interior que, minutos depois de receber a notícia da cura de um câncer – contra o qual lutava há sete anos -, acabou morrendo atingida por uma árvore centenária que despencou exatamente no pátio da Santa Casa de Porto Alegre.

Tem coisa mais infeliz que possa acontecer a um ser humano? Em fração de segundos comemorar o renascimento, a superação, a vitória que é estar vivo e acabar, pouco depois, sendo vítima de uma fatalidade tamanha?
Fiquei pensando no ditado “estar no lugar errado, na hora certa”.

Noemi Schevitz da Costa, 68 anos, ia ao hospital regularmente para o tratamento oncológico e justamente quando retirava seus últimos exames médicos foi atingida pela copa de um coqueiro de 12 metros de altura. Ventou muito por aqui nos últimos dias, o que deve justificar o dano na árvore já desgastada.

A matéria contava ainda com uma entrevista do marido da vítima, que estava ao lado dela no momento do incidente. Consegui absorver a dor e a tristeza retratada através do rosto daquele homem. Como se não bastasse toda a apreensão que passara ao longo da batalha da mulher contra o câncer, o turbilhão de emoções que atingiram aquele senhor em poucas horas é incalculável. Com a fatalidade, Seu Álvaro perdera a companheira de quase 50 anos de vida em comum, mãe de seu único filho, que reside em Salvador.

É, o fluxo das coisas não erra, escolhe a hora em que realmente as coisas devem acontecer, por mais injusto que isso possa parecer. Dona Noemi passou por uma provação durante o duro tratamento e contou com o apoio do homem com quem dividia a vida há meio século. Comemorou com ele a notícia de sua cura e foi ao lado dele que viveu seus últimos momentos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sapo X príncipe



Nós, mulheres, ainda temos a ilusão de que príncipe encantado existe e que um dia ele cairá, literalmente, aos nossos pés, com ou sem seu cavalo branco, porém lindo, com corpo escultural e sorriso arrasador (dinheiro no bolso também ajuda, mas não é prioridade entre as prioridades femininas).

Pode até demorar, mas temos certeza de que papai do céu vai olhar aqui pra baixo e que vamos tirar a sorte grande, mais cedo ou mais tarde. E assim vamos vivendo. Por mais desencanada que a menina possa parecer em relação ao assunto, todas nós, sem exceção, temos ou tivemos esse tipo de pensamento pelo menos uma dúzia de vezes. E, apesar dele, nesse meio tempo conhecemos caras legais, outros nem tantos, nos apaixonamos e reapaixonamos, quebramos a cara, choramos e aquele esteriótipo do príncipe nem importa mais.

Só que até chegarmos a esse estágio de desencucação a respeito, muita água rola e deixamos de vivenciar certas coisas exatamente por conta das convenções. Se é baixo ou alto demais, não serve. Se tem uma carequinha proeminente, nem pensar! Se a barriguinha de cerveja está aparente, vira o rosto. Se é magro demais, foge! Se o nariz é grande, fecha os olhos!

Nos acostumamos a procurar e a desejar a perfeição, o que nos dizem ser o ideal, o que nos acostumamos a ver como o aceitável socialmente. Dessa forma, tudo o que foge a isso é rejeitado, condenado e até criticado, como se a vida fosse realmente um comercial de margarina e todos tivéssemos a obrigação de nos mantermos felizes e alinhados o tempo todo.

A culpa não é nossa, as coisas são assim e não é fácil romper barreiras, não ligar para o que os outros vão pensar nem para as aparências. Só que cabe unicamente a nós abrirmos mão dos estereótipos e buscarmos a nossa felicidade do jeito que for para acontecer.

Não estou dizendo aqui que o príncipe não existe e que jamais chegará, muito pelo contrário! Estou apenas chamando atenção para o fato de que ele é mais real do que se imagina e que terá um jeito, uma cara, um corpo, defeitos e imperfeições para cada uma de nós. Afinal, o ditado já diz que “sempre há um chinelo certo para um pé torto”, graças a Deus! Que tal começar cedendo um pouco e sendo menos exigente consigo mesma?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Brinde reincidente


Uma das certezas de que a gente, digamos, não cozinha mais na primeira fervura é o efeito aniquilador de uma ressaca pós-noitada quando se tem mais de 30 anos. Pois é. Todo mundo sabe como é aquela sensação de estar imprestável no dia seguinte, enjôo, tontura, sono, dor de cabeça, mas não adianta... atire a primeira pedra quem não é reincidente na ressaca!

No meu caso, a imprudência nem foi tanta assim, mas a soma de cansaço com muito tempo sem beber deu no que deu. Algumas doses de vodca com energético depois e ai, falem mais baixo, por favor! Por sorte e um pouquinho de juízo ainda presente no meu corpo, não cheguei ao extremo de literalmente passar mal, porque me alimentei direitinho antes de cair na noite, mas só o fato de ter perdido um lindo domingo de sol já bastou para que eu me arrependesse dos excessos.

O mais impressionante nisso tudo é constatar que alguns anos atrás não precisava mais do que 12h para me recuperar, mesmo dormindo pouquíssimo, e, bora cair na gandaia de novo! Agora, jezuiz, um dia mal e pelo menos uma semana me arrastando de sono e preguiça! A recuperação parece uma eternidade!

Sim, porque um dos piores efeitos da ressaca, pra mim pelo menos, é o que chamo de sono a prestação. Acordo mil vezes, o sono fica mais leve do que o normal, e fora as primeiras duas horas no berço - que mais parecem um desmaio -, a impressão é de falta total de descanso, por mais tempo que eu repouse.

Além da inércia ao acordar, meu estômago fica sensível, o botão dos carboidratos fica piscando sem parar, seguido pelo sensor da glicose, que só ontem me fez sair do sofá apenas para tomar um sorvete e cometer a insanidade de comprar um pote de doce de leite no supermercado... logo eu, que nunca compro doce de leite! Enfim, só de imaginar uma colherada do doce geladinho foi suficiente para fazer com que eu me sentisse um pouco melhor. Tsc,tsc,tsc.

Hoje cedo, na hora de acordar para o trabalho, o sono remanescente parecia um pesadelo. Fome nenhuma, moleza ao extremo e uma sensação de torpor que nem o seu pior inimigo merece enfrentar! Não preciso nem dizer que a cara está péssima, o humor idem e é recém segunda-feira! Parabéns, Fernanda!

Pra diminuir o estrago, a promessa do dia é caminhada de pelo menos uma hora no final do expediente, mesmo que por ora essa pareça ser uma das tarefas mais difíceis a serem cumpridas! Pelo menos até o próximo excesso etílico... um brinde aos que não aprendem nunca, tin-tin!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Boa lembranças, sempre!


Engraçado como algumas lembranças têm o poder de nos fazer um bem danado. Pode ser uma cena vivida na infância, uma viagem, um encontro especial, o rosto de alguém que não vemos há tempo, o gosto de um prato especial, um cheiro.

Hoje cedo cruzei de carro pela rua com alguém que não via há tempos e me veio uma sensação tão boa na hora. Uma alegria de ver que está bem, que parecia feliz, de bem com a vida.

Tenho certeza que certas pessoas passam pela vida da gente por um motivo certo. Uma amiga sempre fala que cada um tem sua “função social” na vida da gente, e eu acredito.

Na fase que estamos mais fragilizadas, por exemplo, sempre aparece um amigo que se revela mais disponível do que outros. Quando estamos em crise existencial, vez que outra conhecemos alguém especial, que nos faz ver, na hora certa, o valor do que somos e temos.

Quando menos esperamos, acabamos conhecendo pessoas que tornam-se importantes em determinados momentos da nossa trajetória, isso é fato, faz parte do ciclo da gente - a menos que se viva fechado em um casulo, sem dar chance ao acaso e sem olhar para os lados, lógico.

Pode ter certeza que até aquele chefe chato ou o colega mesquinho de trabalho também tiveram papéis importantes para que nos tornássemos profissionais e pessoas melhores ao longo do tempo.

Mas, enfim, voltando à lembrança que me inspirou hoje.
Apesar de eu ter passado pela pessoa feito um raio e ela nem sequer ter me visto, as recordações me fizeram terminar todo o meu trajeto sorrindo, com uma sensação boa, como se ainda fôssemos próximos. Um sentimento de leveza, exatamente como lembro que foi um dia o nosso convívio, leve.

Acabei mandando uma mensagem só para dizer que nos cruzamos sem querer e que, apesar da correria, foi muito bom poder ver que está bem e ter boas lembranças do que passou. Me senti feliz em fazer aquilo, como se eu realmente devesse fazê-lo, mesmo sem esperar resposta alguma. No entanto, ela veio, algumas horas depois, na forma de um agradecimento carinhoso. Exatamente como as lembranças que ficam.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bússola de aluguel


Me dei conta de que, geralmente, depois de uma fase puxada de trabalho e de pouco descanso, a e inércia passa a me dominar. Inércia não no sentido de ficar parada, sem fazer nada, mas sim de aceitar a rotina imposta e seguir no piloto automático, como se nada demais tivesse acontecido, se o desgaste não fosse tamanho e o barco seguisse normalmente.

Imobilidade talvez seja a palavra mais adequada. Uma certa falta de interesse derivada da exaustão, física e mental. Uma falta de força para traçar novos objetivo, apesar de uma vontadezinha escondida lá no fundo.

Falo isso porque depois de mais de três meses mergulhada em uma campanha eleitoral, longe de casa e dos meus, ainda não consegui me desligar e retomar minhas coisas. Ainda não desacelerei, isso é verdade, mas vislumbro o feriado próximo como a imagem do meu oásis.

A casa segue bagunçada, as roupas para lavar se acumulam, os livros e revistas só crescem na pilha disposta há meses ao lado da cama. Consultas médicas a serem marcadas, revisão do carro, algumas tarefas de casa para serem acertadas, conversas para serem iniciadas, beijos a serem trocados e muita gente para ser resgatada do meu convívio. Fora a agenda cultural e de lazer que me instiga e ao mesmo tempo assusta diante de tanta oferta em aberto.

Minha vontade é fazer as malas e sumir por um tempo. Ganhar a estrada, conhecer novos lugares ou rever outros, ficar sem fazer nada, colocar o pé na areia, tomar um banho de mar, descobrir alguma nova inspiração até a volta. Férias seriam a solução perfeita, não fosse a falta de orçamento e de companhia momentâneos.

Não quero perder a direção, mas não estou conseguindo me concentrar em achar um novo rumo neste momento. Os caminhos parecem repletos, porém incertos. A palavra ócio aparece num sussurrar intenso, sinfonia perfeita para os meus ouvidos.

Me sinto à espera de algo que nem eu mesma sei o que é, de possibilidades infinitas que fogem ao alcance das mãos, de velhas novidades a serem descobertas. Alguém pode me emprestar uma bússola?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pensamentos em uma década


Fechei os olhos agora e tive um insight de como estará minha vida daqui a dez anos. Em 2020 estarei prestes a completar 45 e me imagino batalhando muito, mas com mais qualidade de vida.

Me vejo ainda mal-humorada pela manhã, mas feliz em despertar para a minha louca rotina. Ainda um pouco preguiçosa, mas perseverante para encara uma caminhada matutina.

Me vejo arrumando o lanche das crianças, um menino e uma menina, e totalmente em paz com meu amor. Me vejo feliz com algumas rugas no rosto, com os cabelos pintados em um tom um pouco mais claros e muito mais confortável com o meu corpo.

Me vejo morando no aparamento que pudemos adquirir, orgulhosa das paredes coloridas, da decoração informal, porém aconchegante, das plantas e pontos de luz nos lugares certos. Me vejo confortável no mesmo sofá laranja de hoje, diante de vários porta-retratos com registros felizes, lembranças de viagens e a saudável bagunça que só um verdadeiro lar pode ter.

Me vejo escrevendo, trabalhando no que gosto e ainda tendo tempo de voltar para casa e preparar o jantar da turma. Me vejo gargalhando ao lado da minha mãe, uma setentona de bem com a vida, e dos meus irmãos e sobrinhos queridos, lembrando as histórias dos avós que nos deixaram há pouco, graças a Deus sem sofrimento.

Me vejo caminhando de mãos dadas com meu amor em uma praia, sentindo o vento gelado no rosto e o sol tímido nas costas, sem grandes preocupações, a não ser acompanhar os passos que se formam na areia fofa e úmida e manter o sorriso largo de ver as crianças correndo um pouco à frente.

Me vejo vivendo de uma maneira leve, simples como agora, mas menos tensa e acelerada. Me vejo finalmente fazendo planos daquela viagem dos sonhos, dos almoços com toda a família reunida, dos momentos de relax com os amigos do peito e pensando que os 50 nem estão tão perto assim.

Me vejo planejando programas como sempre, procurando os lançamentos no cinema e conferindo a agenda cultural da cidade. Me vejo abrindo o vinhozinho de início de noite, feliz ao repousar a cabeça no peito dele mais uma vez e reconhecer naqueles cabelos um tanto grisalhos e ainda desalinhados a alegria e inquietude de sempre.

Mas me vejo, sobretudo, em paz com a vida e pensando em como será difícil desejar alguma coisa diferente disso para os próximos dez anos.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Plano de voo


Não, não estou na TPM. Mas, sim, estou de mau humor!
E assim tem sido, incontrolavelmente, nos últimos dois dias. Sono atrasado, frustrações profissionais, aperto de grana, saudades dos amigos, vontade de ganhar colo e, ao mesmo tempo, de me isolar.

Não tem jeito, a gente segura o quanto dá, mas uma hora tem de estourar. E eu tenho o defeito de segurar demais, os meus problemas e os dos outros. Portanto, é natural que a cara fique um pouco amarrada, que não sobre muita vontade de falar nem de ser simpática com quem passa. Meu namorado brinca que fico com cara de coruja.

Pois exatamente nesses dias, a Lei de Murphy se sobressai e tudo o que tinha para dar errado acontece. O pneu fura, acaba a água da geladeira quando chego tarde e exausta em casa, três lâmpadas queimam no mesmo dia, e, para piorar as lamúrias, o chuveiro elétrico estraga! Imaginem isso no frio polar que faz aqui no Sul e elevem à terceira potência! Pronto, é mau humor na certa!

Por trauma de infância, tenho mania de arrumar as coisas logo de cara, assim que estragam e, salvo alguns reais a menos, as coisas voltam aos poucos a funcionar lá em casa. Mas minha introspecção nesses dias me fez ver que ando adiando demais algumas ações.

Deixei de chamar o eletricista quando o chuveiro começou a dar sinais de pane e, resultou nisso, banho frio logo cedo, bem no meu dia de crise. E assim tem sido. Tenho adiado o check-up de rotina, a volta ao dentista, a matricula na academia, a dieta. Também não consegui economizar nada esse ano, tampouco planejar aquela viagem.

Pensando nessas coisas me veio uma sensação de boicote incrível! Me dei conta de que eu mesma estou me podando, pessoal e profissionalmente, em alguns sentidos. Não estou 100% satisfeita com as coisas e, bingo, levo mais problemas pra casa e uma coisa leva a outra.

Por que será que algumas situações nos fazem emperrar e outras não? Por que resolvemos tão bem os pepinos dos outros e não nos mexemos para os nossos? Por que será que arranjamos tempo para trabalhar até mais tarde e não para praticar um exercício?

Onde está escrito que o profissional tem de estar à frente do particular? Onde está escrito que a gente trabalha para sobreviver e não para usufruir? Onde está escrito que não somos nossas próprias prioridades? Males da modernidade, chagas do século XXI!

Não podemos nos manter coniventes com o que está traçado, cúmplices do que nos é imposto e do que está convencionado. A evolução de cada um virá no tempo certo, mas ela tem de resultar de um esforço interno e, provavelmente, solitário.

A borboleta está a ponto de fortalecer suas asas e revigorá-las. A próxima etapa será rumo a um voo certeiro! Aham!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Cartas para Julieta


Não adianta, no final das contas mulheres são todas iguais, independente de credo, condição econômica ou profissão. Podem ter 10, 30 ou 60 anos, todas, de uma forma ou de outra – até as que fazem questão de negar isso –, sonham em encontrar o príncipe encantado, a metade da laranja, a tampa da panela! Não tem jeito!

Revolução sexual vai, revolução sexual vem, as mulheres tornam-se cada vez mais independentes, comandam lares, consomem como nunca, brilham à frente de cargos importantes, escolhem quando - e se- terão filhos, mas, no fundo, no fundo, se emocionam da mesma maneira diante de uma linda história de amor.

Concluí isso ontem, enquanto assistia a Cartas para Julieta (Letters to Juliet), rodeada de mulheres das mais diferentes idades. O romance conta a história de uma americana aspirante a repórter que vai passar férias com o noivo em Verona e, ao visitar um dos pontos turísticos da cidade, a Casa de Julieta, se depara com uma parede cheia de cartas, em que mulheres apaixonadas pedem à eterna noiva de Romeu ajuda com seus problemas amorosos.

A americana descobre que os pedidos ali postados são recolhidos e respondidos diariamente por um grupo de mulheres e, em meio à surpresa, acaba ela própria encontrando uma carta escondida entre as pedras, datada de 1951, e escrita por uma inglesa que se apaixonara por um italiano, mas que não tivera coragem de levar o romance adiante.

Fascinada pela história, a moça decide responder à carta pessoalmente e acaba ajudando a autora da missiva, mais de 50 anos depois, a encontrar a paixão da adolescência. Ilustrado por belas imagens da Toscana, o filme pode até pecar um pouco pela previsibilidade, mas emociona o espectador que acompanha atento à busca de uma senhora já vivida (a sempre excelente Vanessa Redgrave) pelo amor que nunca esquecera (vivido por Franco Nero). Ao promover o encontro do casal já maduro, o filme reitera a mensagem de que o amor sempre vale à pena e comove, de uma maneira delicada.

Assim como eu me emocionei, ouvi dezenas de mulheres fungando no mesmo compasso durante o filme e juro que vi os dois senhores sentados ao meu lado, na faixa dos 70 anos, levantarem os óculos e enxugarem uma ou duas lágrimas enquanto assistiam ao filme com suas esposas. Na saída do cinema, os comentários que ouvi foram todos bem semelhantes e os semblantes tinham uma expressão de serenidade que só as boas comédias românticas podem provocar.

Saí da sala me sentindo mais leve e entregue àquela história que, até a hora de eu dormir, fez valer meu dia! Coisas que não são possíveis apenas através da magia do cinema, basta acreditar e escrever de próprio punho o nosso roteiro!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amigo é coisa... pra se alugar?


Exatamente hoje, enquanto muitos celebram o Dia do Amigo, li uma notícia tirada do The Guardian sobre uma nova atividade que ganha fôlego pela Europa e, aos poucos, vem chegando no Brasil: o aluguel on line de amigos.

Pois é! A matéria diz que a amizade de aluguel é um serviço em expansão em diversos países da Europa, dos Eua e do Canadá, graças à empresa Rent a Friend (Alugue um Amigo, em português), que começou o negócio com o intuito de ajudar pessoas ditas mais reservadas a lidar com o próprio jeito de ser e, assim, driblar a falta de um ombro para chorar, uma companhia para comer uma pizza, ir a um cinema, etc.

Ao contrário das agências de namoro, a empresa não tem a intenção de promover romances ou sexo casual a seus clientes, mas sim permitir que tenham alguém com quem dividir algum programa específico, ou companhia apenas para uma festa ou evento. Me surpreendi com o crescimento do tal negócio, achei que a internet pudesse ter aproximado muitas
pessoas e minimizado a alta de companhia de muitos viventes, mas tudo indica que não.

Dados divulgados na matéria dão conta de que os clientes da Rent a Friend pagam cerca de US$ 25- R$ 44 - por mês para acessar ao banco de dados da empresa, que disponibiliza mais de 200 mil candidatos a amigos em seu catálogo, todos identificados com foto. Fiquei imaginando como seria feita essa escolha pela clientela. Seria por tipo físico, idade, profissão? Por afinidade seria complicado, né? Afinal, quem não consegue cultivar pelo menos uma amizade verdadeira ao longo da vida, não deve ter afinidade com nada nem ninguém...

Não consigo imaginar essa como uma situação real! A matéria revela ainda que cada amigo custa US$ 10 (R$ 18) por hora ao cliente interessado e o fundador do negócio, um americano, se gaba de ter desenvolvido um nicho até então inexplorado do mercado, segundo ele, “já que ninguém estava oferecendo amizade como negócio", conta ele.

Agências que oferecem serviços similares já são populares no Japão, até escrevi a respeito tempos atrás. O que me surpreendeu, de fato, foi saber que esse serviço já existe desde 2007 no Brasil. Uma hora de companhia sai por R$ 300 em média e é possível até localizar ofertas de “personal friends” em uma busca rápida na internet por aqui.

Não cabe a mim julgar ninguém, muito menos àqueles que por algum motivo ou outro têm problemas para se relacionar ou preferem não se relacionar com os outros. Agora, ter de apelar para uma agência virtual para conseguir com quem dividir algum programa ou evento, e ainda pagar para isso, me soa um tanto quanto bizarro.

De qualquer forma, acredito que todas as maneiras de convívio valem à pena. O que não dá é para passar por essa vida infeliz e solitário - se isso não for uma opção, é claro -, mesmo que para mudar esse quadro seja preciso recorrer ao aluguel de um amigo como solução derradeira. Vai entende, o homem é realmente um bicho muito estranho!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Bom dia pra quem?


Me considero uma pessoa afável, de riso solto e de fácil convívio. Porém, me pega com sono pra ver o monstro por trás dos meus simpáticos olhos puxados! É fato, com sono sou praticamente irascível. Me torno o mau humor em pessoa, resmungo, xingo, faço beiço, por vezes me torno grosseira e não quero conversa com ninguém.

Conheço pessoas que agem assim quando têm fome, mas no meu caso é o sono que me torna intragável. Nos últimos três dias tenho dormido pouco e trabalhado madrugada adentro, o que me deixa extremamente sonolenta ao longo do dia. Não me importo de trabalhar à noite, mas desde que possa dormir até cansar depois - e isso não é exatamente o que tem ocorrido!

Sabem aquelas crianças com sono, que custam a se entregar e ficam fazendo manha até tirar o último fio de paciência dos pais? Estou me sentindo exatamente assim hoje. Manhosa, irritante e irritada, chata com os que me cercam, coitados, e que não têm culpa de me desejarem um bom dia! Bom dia pra quem, mesmo?

Desde criança sou dorminhoca, adoro uma caminha bem feita, travesseiros fofos, roupa de cama cheirosa e aquele aconchego bom que só tem quem é convidado a cair nos braços de Morpheu. Preparo delicadamente o ambiente para o espetáculo. Fecho bem as janelas para que nenhuma fresta de luz atrapalhe, encosto cuidadosamente a porta para evitar barulhos externos e afofo bem os travesseiros antes de me recostar.

Meu sonho é poder dormir sem hora para acordar. Mas, infelizmente, não lembro a última vez em que isso foi possível. Em casa, meu mau-humor matutino sempre foi assunto dos almoços de família e tema de deboches incansáveis dos meus irmãos mais novos. Todos sabem que, por questão de sobrevivência, não devem falar comigo assim que acordo.

Colegas de trabalho, por exemplo, já entendem que tenho cara de poucos amigos logo que chego no escritório de manhã. Amigos mais chegados aprenderam que me ligar de manhã não é atitude recomendável e o namorado já percebeu que não é com o meu verdadeiro eu que ele se depara ao acordar.

Não ajo dessa forma por querer, mas sim por instinto! É incontrolável, mais forte do que qualquer mantra que eu queira entoar, do que qualquer pensamento positivo que me venha à cabeça, do que aquela cena bonita que traz sensação de acolhimento quando a gente fecha os olhos.

Agora, pasmem, descobri que o que eu tenho não é frescura e pode ser uma hipoglicemia matutina (queda de açúcar no sangue), que atrapalha o
funcionamento normal do cérebro, gerando reações como o tremendo mau humor matinal. A receita, segundo os nutricionistas, é não prolongar o desjejum. Será? Prometo pensar a respeito.

De qualquer forma, aproveito o espaço para, publicamente, pedir desculpas a todos os que são ou foram obrigados a conviver com o meu assumido mau humor matutino, mas sinto informá-los, no entanto, de que até a minha aposentadoria, as perspectivas de melhoras nesse quadro são irrisórias! Bom sono a todos!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ingenuidade infantil


Não tenho filhos ainda, por isso acho sempre complicado opinar sobre a criação das crianças dos outros. No entanto, lendo uma reportagem da revista Época não pude deixar de pensar que, realmente, são os pais que estragam os filhos. A matéria relata que as crianças de hoje têm exigido verdadeiras festas de arromba de aniversário, deixando pais de cabelos em pé – e, na maioria das vezes, de bolsos furados.

Pelo que li, apenas mulheres jurássicas e ingênuas como eu ousam pensar ainda que para alegrar uma turma de infantes basta organizar uma festinha com mesa colorida repleta de brigadeiros, cachorros-quentes, bolo de chocolate e refrigerantes, meia dúzia de balões e lembrancinhas modestas. Não, hoje a criançada quer DJ, mágicos, malabaristas, maquiadores a postos e festas em salões e até em hotéis badalados.

Uma festinha básica dessas não sai hoje por menos de R$ 4 ou R$ 5 mil e a partir dos sete anos, garante a revista, as crianças já pensam em comemorar com baladinhas, com direito a globo de espelhos no teto, DJ tocando os hits da moda e lembrancinhas descoladas para não fazer feio com os amiguinhos. Gente, hello, em que mundo estou vivendo?

Tá certo que antes dos três anos as festas são feitas exclusivamente para marcar a data e para que os pais agradem a família e os amigos, uma vez que a criança-aniversariante não entende o que se passa e nem tem amiguinhos suficientes para encher uma mesa. Mas, a partir do momento em que as crianças passam a ter noção de que cada ano de vida merece ser celebrado, só cedem aos caprichos - e muitas vezes às exigências - dos filhos os pais que quiserem!

A sociedade de consumo chegou a um patamar inimaginável e quiçá irreversível! E a culpa de quem é? Exclusivamente nossa, dos adultos descontrolados!

Vejo crianças nos shoppings dando verdadeiros pitis diante de pais embasbacados, exigindo presentes, chantageando gente grande e abrindo o berreiro se não forem imediatamente atendidos. Isso me amedronta, não me imagino sendo coagida por um filho que ameaça gritar caso não ganhe um brinquedo.

Se hoje eu não teria condições de bancar uma festinha de R$ 5 mil sem me endividar, imagina quando meus filhos estiverem por aí. Sacrifícios para agradar os filhos compensam, claro, mas se envolverem gastos e escolhas ligados à educação, saúde, formação cultural, penso eu. Muitos podem dizer que falo isso agora, enquanto não tenho rebentos. Mas entendo que limites devem ser impostos em casa, e desde cedo, e que pais não precisam ceder o tempo todo para provar que amam seus filhos. Tomara que eu nunca morda a língua!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Supervalorização da bola X vida real



Ontem, enquanto tentava digerir todas as informações acerca da barbárie Bruno-Eliza Samúdio, me incomodou ver a falta de sensibilidade dos colegas de imprensa que insistiam em comover (ainda mais!) a audiência colocando criancinhas a falar que tinham o goleiro do Flamengo como ídolo e que, agora, se sentiam órfãos.

Ora, órfão está o bebê de quatro meses! Me irrita, e não é de hoje, essa supervalorização que fazem do futebol no nosso país, como se todos os problemas dos brasileiros fossem esquecidos diante da bola. E me irrita mais ainda a supervalorização dos jogadores e seu endeusamento.

Se animais como o tal goleiro fazem o que fazem, agem movidos pela certeza - alimentada pela sociedade- de que estão acima do bem e do mal, de que podem tudo. Acho que acreditam de verdade que são impunes, justamente por serem idolatrados da maneira como são. Difícil não se deslumbrarem, damos munição suficiente para que pensem assim.

Meninos são criados desde pequenos para venerarem os jogadores do time que os pais torcem, para se espelharem neles e terem tais atletas como verdadeiros modelos de vida. Por quê? Será que esses pais têm a grandeza de entender e passar para seus descendentes que o esporte pode dar noções de disciplina, responsabilidade, coleguismo, respeito?

Será que reconhecem que graças à pratica desportiva muitas crianças podem sair da zona de vulnerabilidade social e aprender a concentrar seus interesses em coisas que realmente valham a pena? Não, nada disso! Alguns pais insistem em defender a importância do futebol na vida dos filhos porque sonham que qualquer resquício de talento para a bola possa vir a abrir caminho para que os mesmos possam realmente apostar nisso e, oxalá, enriquecer graças ao talento para o gol (ou sua defesa) e, assim, tornarem-se idolatrados da mesma maneira com que agem em relação a tantos nomes do futebol.

Sei que para muitos minha análise pode parecer antipática, mas simplesmente não consigo compreender algumas atitudes. Homens adultos choram, brigam, morrem e até matam por conta da rivalidade no campo. E para quê? Alguém pode me dizer o quanto tudo isso vale? Ganhar um campeonato, venerar a imagem de uma taça ou de algum jogador?

E o que será que pensam e sentem quando se deparam com atos irresponsáveis e até desumanas vindos de seus ídolos, como acontece agora? Respostas para esse guichê, por favor!

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Engraçado como o mundo avança e as pessoas- aparentemente- não. Falo isso porque ando pasma com a falta de educação alheia. Há dois dias me comentaram uma saia justa diante de uma parada de ônibus lotada, em frente a um shopping. Dezenas de pessoas aguardavam a condução, no final da noite, perfiladas para organizar a entrada no ônibus e driblar o frio, quando dois marmanjos atravessam a rua correndo e, na maior cara de pau, furam a fila assim que o ônibus se aproxima, sem mais nem menos, apesar das reclamações dos que há tempos ali aguardavam.

O interlocutor me comentou ainda que os dois nem se intimidaram diante das reclamações e ostentavam um ar de superioridade, do tipo “como sou esperto” e nem tchuns para as caras de desaprovação, para os idosos e mulheres que aguardavam na fila. Causa indignação sim, mas acontece, pensei. Afinal, educação costuma ser ensinada em casa e independe de situação econômica ou classe social.

Ontem, um dia depois da conversa sobre a dupla de mal-educados, tive a infeliz ideia de dar uma passada rápida no supermercado, bem na hora do rush dos carrinhos e gôndolas. Como meus objetivos eram apenas uma garrafa de água, queijo e um quarteto de papel higiênico, peguei um carrinho pequeno, respirei fundo e segui em frente. A menos de 200 metros da largada encontrei uma amiga que não via há tempos e, apesar de estar me sentindo um trapo de cansada e sem o menor ânimo para conversar, me senti na obrigação de parar por alguns minutos.

Como meu carrinho já estava com a garrafa de água, tratei de estacioná-lo momentaneamente na entrada de um corredor, para não atrapalhar a passagem dos demais condutores, beijei minha amiga e em razão de 2 minutos, no máximo, voltei para resgatá-lo. Qual a surpresa? Alguém havia roubado o carrinho e, pasmem, deixado a garrafa no chão, exatamente onde eu havia estacionado!

Gente, não tem explicação plausível para alguém se sentir no direito de tirar as compras de outra pessoa e simplesmente afanar um carrinho de supermercado só porque, aparentemente, aquelas compras pareciam não ter dono. E se eu só tivesse ido pegar um produto na gôndola e estivesse no mesmo corredor? E se tivesse tido uma dor de barriga no meio das compras e largado o carrinho para ir ao banheiro? E se, como ocorreu, tivesse educadamente estacionado o carrinho para não atrapalhar os outros enquanto dava um abraço numa amiga e voltado rapidamente?

O supermercado estava lotado, eu estava cansada ao cubo e não tive forças para reclamar. E para quem reclamar diante de uma situação dessas? Mas, no caminho de casa fiquei pensando no que aquele roubo velado significava.

Na manhã seguinte, ao aguardar pelo elevador no prédio onde trabalho, passei por mais uma. Uma mulher simplesmente ignorou a fila do elevador e entrou assim que a porta abriu, na maior cara dura, na frente de dezenas de pessoas. Respirei fundo e não me aguentei, deixei claro que tinha uma fila atrás dela, mas não adiantou nada. Parece que algumas pessoas são blindadas e não se intimidam diante do constrangimento.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Outras vezes uma palavra é quanto basta”


Assisti ano passado uma reportagem especial do Edney Silvestre, na Globonews, com José Saramago. Dividida em duas partes, a reportagem mostrava muitas das faces do escritor português e um pouco de sua intimidade na casa que escolheu como bunker nas Ilhas Canárias. Diante de uma paisagem inesquecível e rodeado de livros, era lá que Saramago vivia, criava e se refugiava com sua Pilar.

Lembro que das muitas respostas surpreendentes dadas pelo escritor ao jornalista, a que mais me marcou foi a que expressava sua reação diante do anúncio do prêmio Nobel de Literatura, recebido em 1998. Na ocasião, Saramago disse não ter se importado muito com a distinção e que o universo continuaria existindo, sem nenhuma diferença, apesar disso. Humildade digna dos grandes gênios! Naquela entrevista ele falou de tudo, do governo Lula, do famoso ateísmo, da criação literária.

Confesso que admirava o escritor muito mais por suas posições e por sua oratória do que por conhecimento próprio de sua obra. Li menos de três de seus livros e não me envergonho disso. Ensaio sobre a Cegueira foi dos que mais gostei e não consegui avançar no Evangelho Segundo Jesus Cristo por conta da falta de vírgulas, que me deixava nervosa. Ano passado acompanhei toda a repercussão do lançamento de Caim e não adquiri o livro –ainda- por pouco. Também lembro da frustração por não ter conseguido assisti-lo em uma palestra recente aqui em Porto Alegre.

Acompanhava semanalmente seus pensamentos pelo blog http://caderno.josesaramago.org e ontem mesmo lembro de ter sorrido diante da genialidade de mais um comentário ali postado: “Inventámos uma espécie de pele grossa que nos defende dessa agressão da realidade, que nos levaria a assumi-la, a percebermos o que se está a passar e a fazer o que finalmente se espera de um cidadão, que é a intervenção”.

Pois bem, por essas e outras hoje senti a passagem do escritor. Fiquei triste como fico cada vez que a cultura mundial perde uma de suas estrelas. Não há mais o que falar, fica a obra, ficam as frases, os artigos, a lembrança da fala doce até para se referir a temas polêmicos e ao amor às palavras: “Outras vezes uma palavra é quanto basta” (José Saramago)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Felicidade em debate


Reconheço e respeito a importância dos parlamentos na história política das sociedades, mas fica muito difícil de defendê-los quando os que propõem legislações que deveriam beneficiar diretamente o cidadão acabam ganhando espaço mais pelas propostas curiosas e excêntricas que lançam do que pelo trabalho parlamentar comprometido em defesa do país.

Falo isso porque me surpreendi ao descobrir que o Senado tem se dedicado a defender a chamada PEC da Felicidade, uma Proposta de Emenda Constitucional que visa incluir as palavras “procura da felicidade” na redação atual do artigo 6º da Constituição, que enumera os direitos sociais dos brasileiros.

A intenção de alguns senadores, em apoio ao movimento + Feliz, liderado pelo publicitário Mauro Motoryn e que conta com adesão do terceiro setor e de representantes da classe artística, é pressionar o Estado para que o bem-estar seja um dever reconhecido e transformar a felicidade em um direito constitucional, ao lado da educação, da saúde, da alimentação, do trabalho, da moradia, do lazer, da segurança, da previdência social, da proteção à maternidade e à infância e da assistência aos desamparados.

Na defesa da proposta, o grupo diz que quanto maior for o esforço e o envolvimento de todos para melhorar o país, mais feliz será nossa sociedade. Ok, acredito que ninguém ousaria ir contra tal argumento, mas até que ponto uma lei será capaz de assegurar o direito de ser feliz? Até porque a mesma Constituição que nos garante os direitos sociais listados acima não tem uma sociedade nem um parlamento devidamente comprometidos em cumprir com esses preceitos.

De que adianta falarmos em defesa do direito à felicidade se a maioria da população brasileira não tem acesso à educação, a alimentação, ao trabalho? Há alguma possibilidade de garantirmos a felicidade quando falta atendimento de saúde, moradia digna, segurança, lazer e condições mínimas de manter uma vida digna?

Ao embasarem a defesa do movimento e da alteração no artigo constitucional, os defensores da medida usam como comparativo a realidade de outros países, como os EUA, Japão, Coréia do Sul e Butão, que há séculos consideram a busca da felicidade um direito, apesar de sabermos que, na prática, não são exemplares nesse sentido.

Felicidade deve, sim, ser um direito festejado e buscado incansavelmente por cada um de nós, mas ele independe até da condição humana, social, econômica de cada um de nós.

A noção coletiva de felicidade inexiste e todos sabemos que o Estado não se empenha nem se empenhará o suficiente para garantir tais condições a todos nós. Então, antes de mais nada, conquistar o direito à felicidade deve ser uma batalha particular de cada um, independente do que dizem leis, regras e governos.

Defendo com unhas e dentes o direito à felicidade e brigo por isso diariamente para beneficiar a mim e aos que amo. Mas querer cobrar do Estado tal prerrogativa, quando tantas outras ainda estão em aberto nesse país, já é querer demais, não acham?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Inquietudes e devaneios


Hoje passei por uma situação profissional constrangedora. Fui convidada a me retirar, com mais meia dúzia de colegas, de uma reunião, sob o pretexto de que o assunto a ser tratado seria sigiloso. Detalhe: permaneceram na sala cerca de 20 pessoas. Alguma chance de manter cautela sobre algum assunto quando há mais de três pessoas envolvidas na cena? Não precisam nem pensar em me responder.

O ocorrido em si, apesar do tal constrangimento, não foi o que mais me incomodou, mas aquela sensação de não pertencer a um lugar, a um grupo, a um momento. Parei pra pensar sobre isso e me dei conta de que ando me sentindo um pouco peixe fora d’água da minha própria vida. É. Ando meio perdida, sem grandes planos ou objetivos, sem metas a serem cumpridas e sem criar falsas expectativas.

Me sinto assim em relação ao trabalho, ao momento, à vida pessoal. Parece que estou em um cruzamento e não sei qual direção tomar. Nunca aquele ditado “caso ou compro uma bicicleta” me pareceu tão adequado. Realmente não sei para qual lado correr. Sou a “mulher dúvida”, uma interrogação ambulante!

E não pensem que me sinto confortável nessa situação. Tenho queimado muitos neurônios pensando nisso. Mas, no momento, ainda não vejo claramente uma saída nem me sinto apreensiva quanto a isso. Tenho apenas a clara impressão de que preciso encerrar esse ano, como se algo me dissesse que realmente o final de 2010 será pra mim o final de um ciclo.

Talvez porque completarei 35 anos em dezembro e estarei, numa boa, mais longe dos 30 e perto dos 40. Pode parecer besteira, mas chegar aos 35 é como se fosse um ritual de passagem pra mim. Não imaginei que nessa idade eu estaria solteira, sem filhos, sem casa própria, sem ter ido a Europa e menos ainda longe da loucura de uma redação. Mas tampouco me arrependo dos caminhos que escolhi seguir até agora e de tudo o que passei e tenho vivenciado.

Fazendo um rápido balanço, não tenho do que me queixar! Não me sinto tão madura para abraçar algumas causas nem tão inexperiente a ponto de pirar diante das dúvidas. Por isso, estou apostando todas as minhas fichas no fluxo das coisas, como se diz, e deixando a vida me levar, exatamente como a música do Zeca Pagodinho, dia após dia.

Não tenho bola de cristal, não consultei as runas nem videntes, mas algo me diz que meu 2011 será um ano de transformações e que meu ritual de passagem dessa fase de inconstância será bem mais rápido do que até eu mesma imagino. Já estou aqui cruzando os dedos, faltam seis meses pela frente!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Divagando em Clarice


Hoje amanheci sonolenta e o dia sem sol só arrastou o problema.
Mas, hoje, também acordei com vontade de Clarice Lispector. Do humor ácido, de suas frases arrebatadoras, da inteligência aguçada e da sensibilidade exacerbada.

Muitas vezes quisera ter apenas um porcento da capacidade e da inspiração que a transformaram num eterno ícone literário. “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Me sinto íntima dela por vezes e, ao mesmo tempo, me envergonho ao admitir que ainda me falta tanto dela para absorver. Assim como Clarice, sou um coração batendo no mundo. Alguém que escreve porque não entende e porque acredita na palavra como sua quarta dimensão.

Assim como ela, começo a escrever e não sei ao certo o que sairá de mim. Escrevo porque acho mais fácil do que simplesmente falar. Escrevo porque também “quero apossar-me do é da coisa, possuir os átomos do tempo”.
Apesar de parecer serena, também me pego constantemente inquieta. Nem sempre quero o que está feito e às vezes penso que seria mais fácil não mais ser gente, exatamente como ela pensara.

Penso e não me envergonho de, para mim mesma, parafraseá-la sem medo, de acreditar que a palavra é a nossa mais sólida forma de domínio, que anjos existem e de temer a desorientação. Por essas e outras coisas, assim como ela, enquanto em mim houver perguntas seguirei meus instintos.

Hoje, senti sua presença rapidamente ao meu lado, com os inconfundíveis olhos expressivos e a fumaça do cigarro sempre aceso. Por segundos cheguei a perceber latentes a vivacidade, a coragem e a ousadia que a marcam até hoje.

Tudo isso fez com que eu me certificasse de que vale a pena seguir divagando e correndo atrás da inspiração e que Clarice tem toda a razão quando nos incita a ver que o mais profundo pensamento da gente não passa, na verdade, de um coração pulsando. A resposta é avançar nesse sentido e passar a senti-lo vivo com muito mais frequência.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Viver é Construção!


Duas semanas sem postar, duas semanas de volta ao trabalho, à cidade, à rotina. Nesse período, muita coisa mudou, mas não inteiramente, não intensamente. Algumas coisas não foram feitas para ser entendidas, mas sim sentidas, vividas, manifestadas, pensadas. E assim têm sido.

Por esses dias, só uma certeza: não faço mais planos a longo prazo. Estou, na verdade, me sentindo como uma freqüentadora do AA, que vive um dia de cada vez, sem exageros. E isso já está de bom tamanho para o meu momento!

Engraçado como uma série de emoções se confundiram nessas semanas. Como uma série de imagens passou como um filme pela minha cabeça, como uma série de trilhas sonoras tem ocupado os meus ouvidos. No momento, Construção, do Chico Buarque. Aquela música que começa com o inesquecível verso “Amou daquela vez como se fosse a última...”, mais uma das obras-primas da nossa riquíssima MPB.

Não tenho ideia do rumo que minha vida vai tomar e isso é, de certa forma, inspirador e inquietante ao mesmo tempo. Incertezas na vida pessoal e no trabalho. Em outras épocas eu, a taxada de racional em excesso, estaria à beira de um ataque de nervos se sequer imaginasse passar por isso. E não é que estou aqui, vivinha da Silva, e levando tudo isso com uma certa leveza?

As rugas na testa só vão me fazer gastar mais com botox futuramente, certo? O embrulho no estômago, se evoluísse, acabaria se transformando em uma gastrite. Sem contar os novos cabelos brancos que brotariam se eu não mudasse de atitude! Por tudo isso, resolvi que o tempo da gente é realmente o agora! Sem clichês, sem rodeios, sem choro!

Sabem aquelas passagens que ficam na cabeça da gente e se perpetuam por décadas? Um almoço com uma pessoa querida, um abraço apertado da mãe da gente, uma risada fora de hora, um choro ao ouvir aquela música, a imagem de um lugar especial visitado, um beijo inesquecível? Tudo isso vale demais e faz parte da vida da gente.

Sim, são meros momentos. Passam, mas ficam registrados como tatuagem na gente. E são esses momentos que constróem o nosso repertório, que desenvolvem roteiros, que destrancam caminhos, que nos permitem viver, sem ter que necessariamente entender o que acontece em volta.

Esse é o verdadeiro mistério que fica. Viver é se permitir, é se deixar viver! Fechar os olhos e lembrar da música do Chico. Vale a pena tentar:

“Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro ...”

terça-feira, 4 de maio de 2010

Da montanha russa ao mergulho


Ao final desse dia a sensação que fica é de que passei por uma montanha russa de emoções. Acordei melancólica, tive um embrulho no estômago que me impediu de almoçar e logo depois meio que estabilizei os sentimentos. Chorei um pouco no sol, li outro tanto e agora driblo a exaustão emocional traçando essas linhas.

Uma rápida volta na rua à tarde e a vontade de voltar pra casa me dominou. Trabalhei um pouco, mas permaneci com aquela sensação estranha de novo. Não quis ser simpática com ninguém, tampouco me esforçar para isso.

Fechei uma semana nesse esconderijo temporário e tenho saudade de casa, das pessoas queridas, da correria. Sei que precisava me dar esse tempo, respeitar meu ritmo interno e começar a curar a ferida longe de tudo. A acolhida não podia ter sido melhor e São Paulo é sempre um bom lugar para se ocupar a mente.

No entanto, ainda me fica aquela sensação de estar vivendo uma vida que não é mais minha. De estar protagonizando um roteiro desconhecido, de pisar em um terreno incerto, de respirar um ar que sufoca.

As vezes sinto como aquela criança que mergulha pela primeira vez, enche os pulmões de ar, fecha os olhos e quando os abre não sabe muito bem onde está. Não sabe muito bem que rosto procurar fora da piscina, a quem pedir uma toalha pra se secar.

Se eu disser que só de pensar nisso não fico com frio na barriga, vou estar mentindo. Mas, com certeza, não será a primeira nem a última vez que passarei por isso. Não lido bem com o frio na barriga, tenho enjôo, fico ansiosa, mas a vida é isso, não?

E o que seria da gente se estivéssemos sempre seguros, certos do que vai acontecer e prontos para driblar qualquer obstáculo? Se o caminho que está traçado fosse previsível, a gente não teria por que acordar de manhã com aquela sensação de que algo de muito bom está por acontecer, de que pessoas legais vão cruzar nosso caminho, de que viagens serão planejadas, de que abraços apertados serão trocados, de que muito riso e muito choro ainda virão e de que, depois de tudo isso, a gente vai olhar pra trás e conseguir dar um largo sorriso ao pensar nos dias de hoje.

E é exatamente isso que penso agora, nesse momento, pela primeira vez nesses dias doidos. Acho que respirei fundo, como naquele mergulho, e ao abrir os olhos me dei conta de que não quero mais procurar o rosto de ontem, e sim imaginar uma nova silhueta segurando a minha toalha. Tenho tanta vontade de mergulhar sim e acho que não vai demorar muito pra que eu tome coragem e pule de novo do trampolim!

domingo, 2 de maio de 2010

500 dias que virão


Domingo lindo de sol na paulicéia desvairada e, depois de dar uma volta com minha irmã pela rua decidimos almoçar tarde e ficar de papo pro ar vendo filmes, coisa que não faço há meses. Engraçado constatar que nas adversidades a gente sempre arruma tempo, coragem e se impõe diante das coisas e da vida como não costumamos fazer no dia a dia.

Pensei isso ao me dar conta que assim, do nada, decidi viajar de um dia para o outro e aqui estou, sem me preocupar com o trabalho acumulado, com os compromissos pré-agendados e com o que me espera na volta.

Pois bem, posso dizer que sobrevivi com galhardia à minha primeira comédia romântica desses novos dias. E essa façanha merece ser comemorada, pois foi feita de maneira leve, sem choro nem maus pensamentos. O titulo escolhido foi 500 Dias com Ela, que fala das coisas boas e ruins de um relacionamento que tinha tudo para dar certo, mas que acabou por decisão de uma das partes.

A perspectiva do enredo, desta vez, é masculina – o que não é muito comum nesse tipo de filme. Tom é um arquiteto frustrado, que vive de escrever cartões comemorativos e românticos e que depois de levar um fora da namorada, Summer, passa a reviver momentos dos 500 dias que passaram juntos. Nesse desenrolar, ele tenta buscar uma resposta para o que deu errado entre os dois e, a partir de suas reflexões, dribla o fracasso e o desânimo até redescobrir o gosto pelas coisas.

Pois é, como vida e arte sempre se confundem, posso dizer que, surpreendentemente, adorei o filme e decidi, ao contrário, de Tom, parar de buscar respostas. Se no momento o silêncio se impõe, talvez seja melhor assim. Reviver as coisas ainda me parece necessário, mas cada vez essa tarefa tem ocupado menos tempo do meu dia.

Aquele aperto no peito ainda está por aqui, mas não faz mais com que eu me sinta derrotada, apenas me lembra de que estou viva, de que, de repente, não vale a pena esperar por algo que talvez eu nunca venha a entender e que, afinal de contas, tudo vale e deve ter um sentido nessa vida, certo?

Por aqui, sentada num sofá que não é meu, sigo em compasso de espera, mas agora pelo que virá!

sábado, 1 de maio de 2010

Liberando arquivos da memória



Apesar de já conseguir dormir melhor, minha cabeça tem tido dificuldade para desligar de tudo o que tenho vivido. Prova disso foi o sonho que tive essa noite. Vestida de noiva, eu me via na festa do meu casamento, rodeada de gente querida, amigos, familiares, mas sem o principal: o noivo.

Na cena derradeira do sonho, minha mãe se aproximava de mim e dizia que o meu potencial noivo havia deixado um recado, avisando que estava confuso e que não se sentia apto a enfrentar a cerimônia. No entanto, outros três candidatos a noivo aguardavam em uma sala ao lado do salão da festa pela minha escolha da noite. Nossa, que pesadelo!

Acordei um pouco atordoada e, obviamente, com várias imagens e lembranças pipocando na cabeça e atrapalhando meu sono. Fiquei tentando entender como algumas pessoas conseguem se desvencilhar de suas vidas de uma hora para a outra. Como apagam, em um piscar de olhos, o que foi vivido até então e passam a adotar uma postura e um diálogo antes inimagináveis. Como descartam pessoas que antes pareciam ser uma extensão de si próprias. Enfim.

Fiquei pensando se realmente uma pessoa pode chegar a conhecer a outra de verdade, plenamente. Porque, atualmente, tenho dificuldade em obter essa resposta. Os dias estão passando, uma semana já foi, mas as perguntas ainda martelam na minha mente.
Ao mesmo tempo, travo uma verdadeira luta entre o que sinto e o que quero sentir. Um misto de saudade, de melancolia e de dúvida. Vontade de deletar parte da memória, de liberar arquivos.

Lembrei daquele filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e desejei,por minutos, poder decidir o que guardar e o que jogar fora. Mas, sei que essa escolha não é minha e que, logo mais, as coisas tendem a parecer mais nítidas.

No momento, apesar de tudo, sinto saudade da vida que tinha há uma semana. E, se minha mente e meu coração ainda estão presos a essas lembranças, vou respeitar e deixar o tempo se encarregar delas. Hoje, aqui no refúgio que encontrei para por a cabeça no lugar, é hora de respirar fundo e tentar ver o mundo com outros olhos. Desejem-me sorte!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Respirarte!


E se a fuga se faz necessária, nada como um pouco de arte para ajudar a desbloquear a mente. Ontem participei da abertura da SP-ARTE, a Feira Internacional de Arte de SP. Em sua sexta edição, a mostra reúne no Pavilhão da Bienal 80 galerias de arte moderna e contemporânea e se firma, com certeza, como um dos grandes encontros das artes plásticas na América Latina.

No total, 1,5 mil obras espalhadas por estandes e corredores mostram aos visitantes o que vem sendo produzido por criativos renomados e jovens talentos em ascensão. Ciceronada por minha irmã que mora em Sampa e namora um empresário do ramo, soube que a Feira foi inspirada nos grandes eventos internacionais de arte e que hoje já se consolidou como uma referência para colecionadores brasileiros e internacionais.

Para quem anda borocochô como eu, umas tacinhas de champanha de lambuja e muitas novidades coloridas preencheram perfeitamente a minha noite. Nas três horas em que saracoteei pela Bienal, me surpreendi com formas e coloridos inusitados, com a poesia das fotos em PB e com formas de arte muitas vezes impensáveis para aqueles que, como eu, admiram tudo o que pode virar arte por aí. O resultado foi um cartucho de memória cheio de fotos e um alento ao perceber que eu era mais uma ali a respirar a arte direto da fonte.

Por algumas horas, quase esqueci dos reais motivos que me trouxeram até aqui, do sono interrompido, da falta de apetite, dos enjôos e do desânimo que bate vez que outra. Á noite me peguei até sorrindo ao lembrar do meu próprio espanto quando a manicure perguntou do meu estado civil. Por alguns segundos não sabia o que responder e tive de procurar o olhar amoroso da minha irmã para poder respirar fundo e responder: “tô recém solteira”. Pronto, saiu, ufa. Achei que fosse doer mais, mas me dei conta de que não adianta querer nadar contra a maré. Principalmente quando é a própria que trata de nos afastar, como um imã.

A sabedoria popular diz que “nada como o tempo”, certo? Estou apostando nisso e aproveitando todas as possibilidades diferentes que me aparecem para tentar respirar mais profundamente e recuperar o meu ritmo pulmonar. Nesse caso, respirando arte já me pareceu um bom começo. Respirarte!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Conversando com as nuvens


A última vez que peguei um avião , há exatos dois meses, tinha ele ao meu lado. Hoje, viajo para me desvencilhar das lembranças, pelo menos por um tempo. Nunca pensei que a fuga fosse necessária, nunca a considerei uma opção. No entanto, hoje aposto nela como uma chance momentânea para tentar colocar a cabeça em ordem, enquanto aguardo uma explicação que ainda não veio.

Em uma semana mudaram o curso da minha rotina e esqueceram de me avisar. E agora? Me sinto como aquela passageira que perdeu o trem no último minuto, como a menina que não foi convidada para a festa dos coleguinhas, como a mulher que segue presa em um universo paralelo. E como sair dele, alguém pode me dizer?

E mais, alguém pode me ensinar o que fazer com as lembranças tão latentes, com os cheiros e a voz que ainda sinto e escuto quando fecho os olhos? E o que fazer com os planos, as risadas deliciantes, os filmes a serem assistidos, as fotos que dominam minha mente, os passeios de ontem?

E como fazer para bloquear convivências, evitar lugares e desligar o botão? Por que nenhum meteorologista previu a tempestade que viria? Por que falharam os oráculos?
Lá embaixo a metrópole vai ficando pequenininha, enquanto deixo mais uma lágrima presa no olho.

Quem dera nas nuvens eu encontre uma resposta.

sábado, 17 de abril de 2010

Vale um post para driblar a espera?


Descobri que não lido bem com a espera. Que ficar olhando para o relógio a cada 10 minutos embrulha meu estômago, acelera meus batimentos cardíacos e me deixa de presente uma indesejada ruga na testa. Apesar disso, percebi também que escrever me acalma e faz o tempo parecer passar um pouco mais devagar. Por isso a razão de ser deste post.

Andei pensando esses dias em como algumas crendices podem, sim, deixar de sê-las e passar a condição de constatações. O mau pressentimento, por exemplo. Passei a semana com o coração apertado, com uma certa melancolia e insegurança que não costumam fazer parte da minha personalidade. Não, obviamente que segurança não é uma das minhas principais virtudes – e penso que não é também da maioria das mulheres - mas salvo os dias de TPM e estresse extremos, me orgulho de ser uma pessoa leve. Leve não no sentido de ser despreocupada, mas leve no sentido de preferir sempre o sorriso largo, as descomplicações a me deixar vencer pelas intempéries da vida.

Assim sendo, algo me incomodou a semana toda e me fez perceber um mau pressentimento martelante, apesar de não saber direito o que era ou é. E assim continuo nesse momento em que escrevo. É difícil de explicar, um sentimento chato, imagine algo como uma mistura de azia e taquicardia. Dá pra gostar? Não dá.

Procurar respostas para o que estou sentindo ocupou um pouco do meu final de semana, algumas suposições para o mau presságio podem até vir a se concretizar, mas, ao mesmo tempo, algo lá no fundo, na minha essência, me faz lembrar em instantes que sou uma pessoa forte, que resisti bem até agora aos tombos que a vida impôs ao meu caminho e que me fizeram, logo ali, levantar com mais garra e vontade ainda de recomeçar.

Pode parecer coincidência, se é que elas existem, mas ao chegar de uma viagem de trabalho e ligar a televisão, me deparei com um seriado que tinha despedidas e recomeços como tema. Duas coisas que também causam na maioria das pessoas sensações como embrulho no estômago, taquicardia e muita ruga na testa. A mensagem do seriado americano era de que, às vezes, despedidas são necessárias para nos mostrar o quanto o ser humano precisa investir em recomeços. E isso é verdade. Recomeços na carreira, na vida, nas amizades, nos amores, no que for, são sempre difíceis, mas nem por isso menos importantes e necessárias em determinadas etapas.

Acho que amadurecer é isso. Tirar da cartola dúvidas, imaginar soluções e perder um pouco de tempo fazendo suposições até sobre o que não sabemos direito o que é. Por hora, sei que o que me incomoda é a espera. Espera por uma sacudida que só depende de mim. A azia e a aceleração dos batimentos ainda insistem com o término desse texto, mas sem elas, com certeza eu não estaria, nesse momento, pensando em como tirar essa ruga insistente da minha testa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pedra pra que te quero


Quem me acompanha no blog sabe que não é de hoje que reclamo do cansaço acumulado nesses três anos sem férias. Pois é, culpa minha, um certo descaso com minha saúde (física e mental), admito, somado a um mix de rotina desrotinizada, preguiça e falta de horário fixo para praticar um exercício físico. Okay, okay, mereço todos os pitos que levarei após esse rápido mea culpa, mas não é exatamente sobre isso que quero me deter.

Fiz essa enrolação toda, o chamado nariz de cera no jornalismo, para dizer que sinto, sim, que minhas energias estão precisando de renovação e que comprovei isso, acreditem ou não, recentemente.

No meu aniversário do ano passado, há pouco mais de quatro meses, ganhei da minha mãe um lindo anel de prata com uma pedra esverdeada não menos deslumbrante. O acessório tornou-se meu melhor amigo de infância, daqueles de encarar os mais diferentes eventos, dia e noite, noite e dia, faça chuva ou faça sol.

Pois bem, no primeiro dia de março - praticamente virada do show do Coldplay que assisti no Rio- fui dar um rápido abraço em uma amiga pelo aniversário comemorado 2 dias antes e, quando me dei por conta, a pedra do anel já tinha se desprendido da base e quicava como bola de ping-pong pelo chão do bar. Na verdade, nem percebi a tragédia, não fosse uma outra amiga ouvir o barulho e acompanhar a queda sem conseguir evitar o pior.

O anel, que antes reinava soberano na minha mão esquerda, virou um ínfimo pedaço de prata vazio. E a pedra verde ovalada, antes onipotente, virou um pedaço de pedra lascada e opaca devido ao choque. Claro que o valor sentimental da peça me fez sentir ainda mais o ocorrido, mas minha porção mulherzinha também acabou inconformada com a perda do anel.

Um mês depois, me surpreendi ao ouvir minha mãe comentar que não houve jeito de trocar ou mandar a peça para conserto na loja. Da vendedora, ouviu uma longa explicação sobre a energia e magnitude das pedras e o conselho de que não mandasse a dita cuja para conserto e me desfizesse da peça lascada.

E mais, acreditem ou não, a vendedora avisou que, geralmente, quando uma pedra cede e cai, significa um aviso de que algo de ruim estava por acontecer a quem a manuseava. Ou seja, a pedra caiu para evitar que algo de ruim acontecesse comigo. Perdoem-me os céticos, mas algo me fez crer naquela história e parar de lamentar a perda do anel.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Simples momentos


Que a gente precisa prestar mais atenção nas coisas simples e corriqueiras, estamos cansados de saber. Então, por que será que só nos damos conta disso vez que outra?

Falo isso porque, ontem, dois momentos diferentes me fizeram pensar assim. Percebi que no meio do turbilhão que a gente vive, muito pouco tempo é gasto com coisas que merecem tempo para serem apreciadas, percebidas ou apenas lembradas.

Primeiro, durante a confusão do meu dia, dei uma descida para ir ao banco e me deparei com uma borboleta laranja, de um tom tão vivo e vibrante que me prendeu por alguns segundos. Em sua busca por pólen entre as flores amarelas do canteiro, o vôo parecia até um balé, de tão perfeito. Poesia pura a cena, até tornou minha espera na fila do banco menos chata!

Tempo depois, quando deitei, exausta e cheia de caraminholas na cabeça, tive outro insight desse, quando me concentrei no perfume da fronha recém tirada da gaveta. Era um cheiro tão relaxante, passava um frescor de lavanda, um perfume de campo e limpeza tão bom, que meu sono foi uma delícia.

Parece bobagem, mas nesses dois rápidos momentos deixei minha mente meio que esvaziar e me concentrei apenas naqueles instantes. Imediatamente me vieram lembranças boas, rostos de pessoas queridas, passagens que estavam guardadas, mas ainda assim muito vivas na memória.

Valorizar as coisas simples da vida, os gestos, os cheiros, as cores, os gostos deveria ser obrigação da gente pelo menos uma vez ao dia. Estou convicta de que são os pequenos grandes momentos que realmente nos marcam! Só que, infelizmente, hoje temos a tendência de valorizar bem mais a coisa material do que os momentos de simplicidade. Todos somos assim, não adianta!

Claro que a emoção de comprar o primeiro carro zero, a conquista de realizar uma viagem tão desejada, de ter o seu próprio cantinho são sensações indescritíveis. Mas colocar o pé na areia, tomar um bom banho de mar, caminhar de mãos dadas, receber um abraço apertado de mãe, sentir o cheiro de bolo assando, perceber o barulho da chuva, o cheiro do mato, por exemplo, não tem dinheiro que pague!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Não ao tsunami emocional!


No dia a dia da gente não são raros os momentos em que ficamos suscetíveis aos transtornos de humor dos que nos cercam. Tanto no trânsito quanto no trabalho e em casa temos de driblar as idiossincrasias dos outros constantemente e isso não é tarefa fácil.

Fiquei pensando no que leva certas pessoas a transformar em tempestade uma simples brisa. Por que tem gente que não consegue ou não admite estar de bem com a vida, que tem de achar problema onde não há e que em cinco minutos consegue agir negativamente sobre o outro? Por mais que eu tente deixar a razão me dominar e não desanimar diante de situações como essas, nem sempre consigo.

Sou uma pessoa otimista, já passei meus perrengues e até em momentos extremos não deixei a peteca cair. Por isso, pra mim é tão difícil entender a cabeça dos que têm uma certa tendência à perturbação alheia. Certas ações me incomodam demais, mas faço de tudo para não deixar que aborrecimentos se transformem em desânimo.

Principalmente porque, com o tempo, esse desânimo pode dar margem a uma tímida dorzinha na alma, daquelas que não fazem bem a ninguém e que podem tomar uma proporção absurda. Por isso, acredito que é preciso travá-la assim que começar a incomodar aquele cantinho do estômago, sabe?

Tudo bem, todos temos nossos dias ruins, mas nem por isso precisamos ou temos o direito de arrastar os outros conosco nem transformar nossas incertezas e inquietudes em verdadeiros tsunamis emocionais.

Respirar fundo, repensar e dar tempo a si e ao outro de pensar e reconhecer as fraquezas pode ser um bom começo para, logo, logo, voltar a sorrir. Eu optei por esse caminho e já tirei o ar sisudo da cara. Falta a contrapartida. E você, que tal tentar?

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ousar é não se deixar vencer pelo medo

Pessoal, por falha minha, ocultei a possibilidade de comentários na postagem anterior. Por isso, coloco o texto novamente hj. Desculpe aos que tentaram comentar e obrigada à Marcia pelo aviso!


Dirigir sempre é um ato que me acalma. Apesar das loucuras do trânsito de hoje, todas as vezes em que preciso pensar mais profundamente na vida ou tomar alguma decisão importante, pego o carro em direção ao Rio Guaíba e dou uma boa espairecida. No final de semana funcionou assim.

Meu ânimo não estava dos melhores, tinha uma decisão importante a tomar e a chuva que caiu me convidou a uma volta melancólica pela cidade. Durante o meu trajeto, aos poucos, as coisas foram clareando e me dei conta que até as pessoas aparentemente mais fortes e decididas que conhecemos se deixam, às vezes, paralisar pelo medo. Nesse caso, medo de tomar uma decisão que possa mudar o rumo das coisas.

Fiquei pensando em como convencer os outros disso e, em minutos, mudei o caminho e me vi enfrentando a situação de frente. Não adianta, dúvidas, mal-entendidos, inseguranças só são verdadeiramente resolvidos quando encarados da forma que têm de ser, com muita conversa, com muito olho no olho e não se fala mais nisso!

O problema do homem em geral, e não estou falando em questão de gênero, mas do homem como ser humano racional, é que se acovarda fácil, se deixa levar por meias palavras, entende o que bem quer – ou o que lhe for mais conveniente- e quando vê está tremendo feito criança pequena que pensa ter visto o bicho papão. É aí que mora o perigo, pois é aí que o medo age e nos impede de ir adiante.

Por isso, medo de confiar, medo de ouvir, medo de falar, medo de tentar e medo de se deixar levar não podem limitar mais as nossas ações. A vida está aí para ser vivida. Para ser reinventada, para ser construída, para ser ousada.

Não se deixe paralisar, controle os seus medos e ponha a cara na rua! Melhor se arrepender de algo que fez do que de algo que deixou de fazer por não conseguir dominar o próprio medo, certo?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Viver é aprender a acreditar na intuição


Ontem algo me dizia que meu dia não ia acabar bem. Passei a tarde toda inquieta, agitada e com uma sensação de que alguma coisa estava fora de lugar, sabe?

O trabalho, estranhamente, não exigiu tanto de mim, a cabeça funcionou livre demais e uma ou duas mensagens sem resposta me deixaram um tanto apreensiva.

Quis encontrar uns amigos e não consegui localizá-los. Algo me dizia para não ir para a casa, vontade de voar as tranças e de não ficar sozinha até que a noite caísse. Acabei não conseguindo companhia para um vinho nem um ombro amigo para despejar minhas ansiedades. Pensei em sair para comprar um presente, desisti. Visitei minha família por uma hora e acabei ficando sozinha até a hora da saída dele.

Fui um pouco indiferente no encontro, confesso. Mas não houve nenhuma manifestação mais calorosa que me fizesse sentir segura pra falar das minhas inquietudes. Por que será que homens conseguem ser um tanto quanto indiferentes quando não são o centro da nossa atenção?

Somos, nós mulheres, as primeiras a abrir os braços para eles, a dar colo, oferecer um carinho e a ouvir – quando eles resolvem sair da defensiva e falar, é claro. Mas por que eles, por mais maravilhosos que sejam, não conseguem reagir bem ao nos verem fragilizadas?

É como se nós, amigas, namoradas, irmãs, mães, mulheres, não tivéssemos o direito a ter uns dias de introspecção, sem que nossos umbigos girem apenas em torno deles, os homens das nossas vidas.

No meu caso, foi o que bastou para levar uma escanteada. Vi que ele não dormiu bem, zanzou pela casa e, pela manhã, pediu um tempo. O resultado é que, sem choro nem vela, estou com meu porta-malas cheio com todas as minhas coisas que estavam na casa dele e com a perspectiva de ter um final-de-semana, de rara folga, bem distante do planejado.

Por que é tão difícil para eles entenderem que, às vezes, só o que a gente quer e precisa é de um abraço forte e silêncio? Vamos ver no que dá.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Frase de novela


Fazia um mês mais ou menos que eu não tinha tempo, paciência nem saco para ver novela. Mas esta semana a preguiça me pegou de tal maneira, que a rotina casa-trabalho-novela tem sido minha preferida. Assim, retomei a trama do Maneco e descobri, em poucos minutos, que a Helena saiu de casa e, finalmente, caiu direto nos braços do Bruno. Ah se todas as histórias da vida real fossem como as da novela!

Pois bem, assistindo a um dos capítulos nesta semana, ouvi de alguma personagem a seguinte frase, que me fez pensar: “Quem tem um grande amor tem tudo”. Por alguns segundos aquela fala ficou batendo na minha cabeça até que eu me desse conta ... e não é que é verdade?

Quem tem um grande amor tem guarida, apoio, proteção. Tem ombro, carinho, desejo. Tem planos, idéias, metas. Tem mais frio na barriga, paciência e tempo para esperar por ele (ou ela).

Também tem pressa em voltar pra casa, aquele aperto seguido no peito e mais vontade de estar junto. Quem tem um grande amor pensa nele durante o dia, fecha os olhos e mata a saudade lembrando do cheiro, do riso, dos olhos.

Quem tem um grande amor se sente um pouco egoísta, quer exclusividade e sempre mais atenção.Quem tem um grande amor tem vinho, filme e edredon. Sofre com a ausência e tem saudade crônica.

Quem tem um grande amor acha os defeitos charmosos, as loucuras idiossincrasias e as imperfeições quase perfeitas.

Quem tem um grande amor quer construir, conhecer, evoluir. Isso não é tudo?