segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Fique longe das canções



Freqüentemente nós, gaúchos, ganhamos fama de bairristas. Alguns adoram dizer que nos achamos superiores, aquela história mesquinha de nos taxarem de “europeus em pleno Brasil” por termos melhores índices- hoje em dia contestados - de qualidade de vida, escolaridade, etc e tal.

Na maioria das vezes em que ouvi comentários desse tipo, minha reação foi uma só, franzir a testa e virar o nariz, achando ridículo principalmente os que concordavam com isso e, inclusive, incitavam um certo viés separatista, como se o melhor fosse extirpar o resto do país do Rio Grande do Sul... como se o restante, principalmente o nordeste brasileiro, fosse uma chaga para nós, eurogaúchos.

Pois bem... a partir de hoje não franzo mais a testa e, assumo minha condição bairrista, orgulhosa em dizer: Nico Nicolaiewsky é gaúcho e de Porto Alegre! Mazáááá, só podia ser mesmo!!

Que Nico era um ator e músico excepcional, autor de trilhas para teatro e cinema, pianista e acordeonista popularmente reconhecido através do Tangos e Tragédias, todos sabíamos. Mas que era capaz de produzir um disco e, posteriormente, um espetáculo tão visceral e emocionante como , não me passava pela cabeça.

Tinha lido críticas positivas ao show, mas confesso que me motivei a conferir o espetáculo a partir da propaganda que vi na televisão e que já dava pistas de que a trilha não me passaria em vão. Pois, sem medo de parecer piegas, admito que o que vivenciei naquela quente noite de sábado, diante do onipresente lustre de cristal do Teatro São Pedro, foi um turbilhão de emoções.

Não costumo ser daquelas pessoas que choram até vendo comercial de margarina, mas Nico me fez chorar. Compulsivamente, durante cerca de 15 minutos, na primeira parte do show. A beleza das letras, a reprodução de um coração-engrenagem suspenso no cenário, a iluminação certa e a apresentação melancólica e até sofrida do intérprete me pegaram em cheio.

Em pouco mais de uma hora e meia de espetáculo, me deleitei com o misto de imagens e sons que atingiam meu peito como um afiado punhal. Não me restou outra alternativa a não ser ceder àquela primeira lágrima que timidamente caía e seguir, a partir dali, e durante boa parte do show, fungando como criança magoada por não ter obtido o que queria.

As canções fazem o peito doer, a respiração falhar, são fruto do trabalho de um lobo solitário, às vezes desiludido, às vezes em busca daquilo que, no fundo, nenhum de nós sabe onde andará. A catarse é inevitável, arrebatadora, não há a mínima chance de sair impune do teatro. Não há a mínima chance de não parar para pensar.

Minha única saída foi correr e comprar o CD ali mesmo no foyer, voar para o carro e continuar o sarau sôfrego oferecido por Nico e, com orgulho, abrir a janela e gritar aos sete ventos que o gênio, sim, é gaúcho e porto-alegrense!

Aos desavisados, mas que ainda assim quiserem se aventurar, o autor adverte: se você quer sinceridade, fique longe das canções!

3 comentários:

Alvaro Neto disse...

Lindo texto! A vida é um turbilhão de emoções e o amor está sempre por perto, a questão é os olhos saberem ver e espírito saber surfar nas ondas que vem e vão.

o que você vai usar disse...

Aeeee Fê lindo o texto.. Que seja o 1° de muitos... Sucesso....
Bjão!!!

Marla Gass disse...

Ahhhhhh! Amei o blog, sabes que acho que todo mundo deve ter um.
E esse show do Nico eu estava LOUCA para assistir. CLaro que, por enquanto, não vai rolar. Mas paciência, é por um lindíssimo e fofíssimo motivo! ;-)
Bj