segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um basta ao preconceito linguístico!


Feriado que se preze tem que ter descanso, boas companhias e livros. Para a Festa de Momo na praia, com previsão de chuva e sem televisão por opção, pus na mala um romance do Agualusa (Barroco Tropical), mas não consegui tirar os olhos do excelente “Preconceito Lingüístico- o que é, como se faz”, de autoria do professor de Língua Portuguesa Marcos Bagno.

A obra caiu em minhas mãos por acaso. Procurava um minidicionário atualizado com as novas regras ortográficas e quando achei a prateleira desejada tava lá o livrinho que atiçou minha curiosidade. Digo livrinho não de fora pejorativa, mas porque o best seller de Bagno - já em sua 51ª edição e mais de 180 mil exemplares vendidos - foi editado no formato de bolso. De cara fui seduzida pelo título, li a orelha, a contracapa, o perfil do autor e meia dúzia de páginas ali mesmo, de pé em frente à prateleira.

Não conhecia o trabalho de Bagno nem o livro que ainda não acabei de ler, mas desde a primeira passada de olhos desejei concluí-lo o quanto antes e me vi balançando a cabeça positivamente, concordando com tudo o que o professor expressa ali. A defesa do autor é simples, Bagno abre os olhos do leitor para a existência da discriminação social por meio da linguagem, uma chaga que perdura no Brasil em pleno século XXI, consolidando-se, embora veladamente, em mais uma forma de exclusão social existente nesse imenso Brasil.

Bagno sugere que a educação lingüística deve respeitar a diversidade cultural e geográfica do país, contesta o ensino do português por meio da supervalorização de regras inúteis na prática diária do cidadão e mostra que qualquer manifestação lingüística deve ser levada em conta, pois “é parte inalienável da identidade pessoal e coletiva” de cada um de nós. Ele discute mitos, analisa a prática docente da Língua Portuguesa e, entre outras coisas, reitera a necessidade de democratizar o ensino do português.

Não é preciso ser acadêmico e conviver com esse meio para supor que, graças a essas suas defesas, Bagno têm levantado críticas e apoios pelos quatro cantos. No Brasil é assim, tudo o que envolve contestação gera polêmica, burburinho e divisão.

Ainda me faltam alguns pares de páginas para avançar nas teorias do professor, mas o que li até então me fez respirar aliviada por saber que ainda há pessoas sensatas e movidas pelo desejo de colaborar para a construção de uma sociedade democrática, que considera e respeita as diferenças e que acredita que a inclusão passa sim pela compreensão da forma como se expressa e se interpreta o português, que, com certeza, não condiz com o que vem sendo historicamente ensinado nas escolas brasileiras.

Se somos resultado do meio no qual estamos inseridos, como julgar errada a forma de falar de indígenas, brasileiros que vivem em áreas de fronteira, jovens, analfabetos e assim por diante? O que determina que os brasileiros do Sul falam melhor o português do que os do norte? E mais, quem disse que o português correto só é falado em Portugal? Aliás, em que se resume o português correto, ainda mais na era cibernética das abreviações e figuras de linguagem?

Parabéns a Bagno pela iniciativa e por levantar questões tão corriqueiras, porém tão pouco debatidas como a nossa própria língua! Assim que encerrar minha leitura, prometo retomar o assunto.

4 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Olá Fernanda!
Adorei o seu texto sobre o preconceito linguístico (inclusive vou procurar prá ler), tendo em vista que essa problemática é algo que está enraizado em nossa cultura, onde desde os primórdios até o século XIX e XX, uns falavam portugês-brasileiro e outros brasileiro-português, ou seja, somos um povo repleto de cultura, onde percebemos a diversidade de raças, pele e língua nas diferentes falas dos Estados, mas como discriminar se é parte tão nossa?
Não tem porquê né?! kkk`
Adorei, ótimo texto!

jakeline magna disse...

Como formanda de Letras... sei o tanto que este livro tem importância para a linguistica...
Adoreiiii o blog... ja sou seguidora fiel vai ter que me aturar sempre em seus comentários... rsrs

Anelise disse...

Tenho esse livro Fê e, inclusive, fiz um trabalho sobre ele na especialização. O engraçado é que muitos linguistas tem "preconceito" contra essa obra. Bom, mas isso é um capítulo à parte... ótimo texto!

Fernanda disse...

brigada pelos comentários! beijos a todos!