terça-feira, 14 de julho de 2009

Voluptosa paixão nacional


Que a bunda das brasileiras é, machistamente, preferência nacional, até o Obama mostrou saber. Por aqui, de fato, há séculos as nádegas deixaram de ser lembradas apenas por sua função biológica e suas formas carnudas e globulares começaram a ganhar destaque, prioritariamente, por seu cunho sexual.

Estimulada pela indústria da moda e do entretenimento, a paixão nacional deu margem a verdadeiras aberrações midiáticas, como o já antigo rebolado da dança da garrafa até o surgimento das mulheres-frutas e dos “passos” de funk que exploram a bunda quase como um estilo.

Pois o fato é que, por essa bandas, não há mais como negar que a bunda passou a ter, gostando a gente ou não, quase que uma função social na vida de milhares de brasileiras e brasileiros. Não me considero feminista ferrenha, mas há tempos que essa questão tem me feito pensar, a ponto de eu até me inclinar a pesquisar a origem de tanta devoção às nádegas tupiniquins.

Pois numa dessas pesquisas me deparei com trechos de um artigo do professor Gilberto Freyre, publicado em uma Playboy da década de 80, intitulado "De onde vem o encanto do brasileiro pela bunda?". Em resumo, o sociólogo afirma que essa adoração começou com a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil. A miscigenação dos lusitanos com escravas, preferencialmente afronegras mucamas, fez com que surgisse o DNA do bundão da brasileira. O mesmo não ocorreu em relação às índias que aqui encontraram, cuja imagem corporal sempre foi magra e sem muitas curvas.

A miscigenação das brasileiras, na análise de Freyre, tornou-se tão peculiar no quesito “protuberância”, que ele chega a dizer que “as bundas de mulheres do Brasil constituem, talvez, a mais variada expressão antropológica de uma moderna variedade de formas e nádegas, com as protuberantes é possível que avantajando-se às menos ostensivas”.

Essa nossa rica história colonial serviu de inspiração para obras de artistas renomados, que não se furtaram em retratar, pintar e transformar em esculturas sensuais a parte mais apalpável do corpo humano. Desde esses tempos, inúmeros artistas, escritores e músicos têm se revezado no culto à bunda alheia, para deleite do público.

Mais recentemente, nem meu ídolo Caetano Veloso resistiu às tentações e espraiou sua adoração pela bunda feminina na canção Cor Amarela, do último disco Zie, zie, na qual comenta suas impressões sobre um certo biquíni amarelo que almeja. O refrão diz “Que cara, Que bunda, Que bunda, É o melhor que podia acontecer”.

Pois bem, fiz toda essa divagação sobre as nádegas alheias porque no último final de semana me deparei com a escultura que - mesmo que em parte- ilustra esse post e não pude evitar o assunto. A obra, que retrata uma índia guerreira guarani, é deslumbrante. Toda feita em aço e ferro, pintada de prateado, mostra uma índia com um arco e flecha na mão.

Em meio à mata nativa e a um campo belíssimo rodeado de cachoeiras e muita vegetação, a índia guerreira e imponente parece estar lá para proteger a região de todo e qualquer mal. No entanto, graças à comprovada adoração de seu talentoso criador pela paixão nacional, acaba chamando muito mais a atenção de costas do que de frente... prova de que a bunda realmente impera nesse reino chamado Brasil!

Um comentário:

Alvaro Neto disse...

Muito bom o texto, um desbunde! Adoro!