sexta-feira, 9 de julho de 2010

Supervalorização da bola X vida real



Ontem, enquanto tentava digerir todas as informações acerca da barbárie Bruno-Eliza Samúdio, me incomodou ver a falta de sensibilidade dos colegas de imprensa que insistiam em comover (ainda mais!) a audiência colocando criancinhas a falar que tinham o goleiro do Flamengo como ídolo e que, agora, se sentiam órfãos.

Ora, órfão está o bebê de quatro meses! Me irrita, e não é de hoje, essa supervalorização que fazem do futebol no nosso país, como se todos os problemas dos brasileiros fossem esquecidos diante da bola. E me irrita mais ainda a supervalorização dos jogadores e seu endeusamento.

Se animais como o tal goleiro fazem o que fazem, agem movidos pela certeza - alimentada pela sociedade- de que estão acima do bem e do mal, de que podem tudo. Acho que acreditam de verdade que são impunes, justamente por serem idolatrados da maneira como são. Difícil não se deslumbrarem, damos munição suficiente para que pensem assim.

Meninos são criados desde pequenos para venerarem os jogadores do time que os pais torcem, para se espelharem neles e terem tais atletas como verdadeiros modelos de vida. Por quê? Será que esses pais têm a grandeza de entender e passar para seus descendentes que o esporte pode dar noções de disciplina, responsabilidade, coleguismo, respeito?

Será que reconhecem que graças à pratica desportiva muitas crianças podem sair da zona de vulnerabilidade social e aprender a concentrar seus interesses em coisas que realmente valham a pena? Não, nada disso! Alguns pais insistem em defender a importância do futebol na vida dos filhos porque sonham que qualquer resquício de talento para a bola possa vir a abrir caminho para que os mesmos possam realmente apostar nisso e, oxalá, enriquecer graças ao talento para o gol (ou sua defesa) e, assim, tornarem-se idolatrados da mesma maneira com que agem em relação a tantos nomes do futebol.

Sei que para muitos minha análise pode parecer antipática, mas simplesmente não consigo compreender algumas atitudes. Homens adultos choram, brigam, morrem e até matam por conta da rivalidade no campo. E para quê? Alguém pode me dizer o quanto tudo isso vale? Ganhar um campeonato, venerar a imagem de uma taça ou de algum jogador?

E o que será que pensam e sentem quando se deparam com atos irresponsáveis e até desumanas vindos de seus ídolos, como acontece agora? Respostas para esse guichê, por favor!

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Fernanda!!!
Também fiquei chocada com essa brutalidade. E também não temos como fugir do fato, pois, a mídia não nos deixa esquecer um segundo. Nunca tinha visto algo tão terrível como o que foi feito com essa mulher, e sobre o que os fãs sentem não faço nem idéia, mas, com certeza deve os fazer refletir sobre o que acreditam realmente.
Adorei o texto, muito interessante.
bjssss

Marla Gass disse...

Fe, assino embaixo!
É uma palhaçada essa idolatria dos jogadores de futebol. Principalmente porque a melhor parte do esporte - a promoção da saúde, da disciplina e do trabalho em grupo - ficam em terceiro plano pra esse povo, depois dos salários astronômicos e da mulherada na volta.
Quantos Brunos e Elisas serão necessários para que a própria sociedade brasileira reveja isso?!