terça-feira, 24 de março de 2009

A culpa é do Dom João VI, só pode!


Hoje cheguei a conclusão que nosso inferno financeiro começou em 1808, quando Dom João VI instituiu o primeiro Banco do Brasil, num conjunto de ações voltadas ao mercado de importação de matérias-primas e exportação de produtos industrializados. Ou seja, desde aquela época o banco como instituição financeira não fora criado para bem atender aos reles mortais, como nós, que possuem contas escassas e que dependem do banco tão somente para movimentar seus ganhos e gastos, e sim para os grandes empresários, industriais, etc. Talvez por isso os bancos estejam no segundo lugar entre as instituições que mais recebem reclamações do Procon, em todo o Brasil.

Falo isso porque não tenho as idas a bancos como minhas atividades favoritas e, graças a invenção das agências de autoatendimento, cada vez menos frequento esse ambiente. Mas os números assustam, são 18.308 agências em todo o país, que controlam mais de 112,1 milhões de contas, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Dá pra imaginar o que sofre todo esse povo quando precisa de informações sobre sua conta, movimentações ou empréstimos?

O sistema das agências são cruéis... hoje precisei descontar um cheque na Caixa Federal e fiquei abismada com o atendimento. Saí de lá dando graças por não ser correntista desse banco, mas com muita pena por me dar conta que dele dependem milhões de pensionistas, aposentados, desempregados, além dos que escolhem deixar ali suas poupanças ou contas repousando. Tudo bem que cheguei perto do meio-dia à agência que fica bem no coração do Centro, na Praça da Alfândega. Mas é desumano o trâmite que o cidadão precisa enfrentar até chegar ao caixa.

Primeiro, depois de ser bem-sucedido na revista para passar da porta de entrada e quase ter de deixar as calças para passar pelo detectos de metais, um batalhão de estagiários totalmente mal informados, com uns aventais horrendos e poídos impedem as pessoas, de maneira indelicada, de acessar as escadas rolantes que dão acesso aos caixas. Não são educados ou solícitos, parecem robôs treinados para barrar e não facilitar a vida do cliente. Se bobear, perguntam até a cor da calcinha da gente para decidir para qual andar te mandar.

No meu caso, e tenho certeza que vale para 90% dos que entram naquela agência, o interesse é chegar aos caixas ou buscar informações sobre PIS, seguro desemprego, penhora, empréstimos, etc e tal. Pois bem, antes de conseguir qualquer informação e conseguir passar pelo interrogatório da milícia de estagiários, o destino obrigatório é uma fila absurda no andar superior. Sabem para quê? Para receber tão somente uma senha e, a partir daí, ir até o térreo (onde ficam os caixas ) e esperar pelo desejado atendimento.

Não, não é brincadeira. Uma ampla sala de espera com cadeiras sujas, mas “sentáveis” permite que pelo menos se descanse enquanto pena para receber a atenção merecida. 10, 15 minutos de espera (ufa, eles escaparam de serem enquadrados na Lei da Fila) e, quando esboço um sorriso de agradecimento por conseguir ser atendida, a surpresa: o cartão para conferir a assinatura do dono do cheque não estava no lugar devido. Devo subir até a gerência e depois retornar ao caixa.

Contando até 10 e me arrependendo amargamente de não ter depositado o dito cujo do cheque e preferido retirar o montante, lá vou eu para as escadas. Na fase 3, o que acontece? Novo ataque da milícia estagiária! Sem folga! Digo que só preciso ir à gerência e, meio que tentando comover a menina que me impede de prosseguir a me liberar, ouço um “suba no andar das senhas e explique que ...”

Ah não! Brincou que vou de novo pra fila das senhas! Concordei com a cabeça e, num segundo de distração da menina, subi dois lances, passando incólume pela fila das senhas e chegando sozinha ao andar da gerência, onde conseguir uma informação é mais difícil do que assaltar o banco. Dezenas de ilhas e mesas iguais, com pessoas robotizadas no mesmo serviço burocrático, com olhos estalados para o computador impedem qualquer resposta à minha indagação: “Quem é o gerente de contas jurídicas?”.

Quando consigo uma atenção e chego à pessoa, sou imediatamente convidada a sentar- sinal de que a coisa vai longe. A moça olha o cheque, caminha para uma sala, volta com uma pasta gorda de papel, fala com um superior e eu lá. 10 minutos, 15 minutos e eu lá... pô, só queria receber por um serviço prestado, nada mais, nada tão complicado. Sem saber exato quanto tempo levei de espera, finalmente recebo o cheque e paço para a fase derradeira...de volta ao caixa!

Claro que a moça que havia me atendido está ocupada e ali peno pelo menos mais 10 minutos em pé, esperando um canto do olhar dela, para que me reconheça e apresse meu atendimento. Pronto, cheque na mão dela, assinatura conferida e com carimbo da gerência, minha foto da identidade checada, assino e, finalmente, saio da agência com a tarefa cumprida. Cumprida literalmente, já que levei quase uma hora para conseguir efetuar a transação bancária.

Dali tive de fazer um depósito em outro banco, mas não levei nem 3 minutos para ser bem atendida e finalizar a missão. Cheguei aqui ainda indignada com o procedimento implantado pela CAIXA, e mais revoltada em saber que grande parte das pessoas que freqüentam aquela agência são humildes, simples, sem escolaridade para entender que estão sendo enroladas. Pior ainda, geralmente são pessoas doentes, idosas e que precisariam receber um atendimento exemplar. Em resumo, saí daquela agência abalada. Para tentar achar alguma justificativa para tanta burocracia, pesquisei sites da Febraban e da própria CAIXAe me deparei com a piada do ano: a missão da CAIXA e seus valores.

A SABER: A MISSÃO DA CAIXA é promover a melhoria da qualidade de vida da sociedade, intermediando recursos e negócios financeiros de qualquer natureza, ancorada nos seguintes valores:

o direcionamento de ações para o atendimento das expectativas da sociedade
e dos clientes;

a busca permanente de excelência na qualidade de seus serviços;

• o equilíbrio financeiro em todos os negócios;

• a conduta ética pautada exclusivamente nos valores da sociedade;

o respeito e a valorização do ser humano.

Viram só, é sério... alguém vê uma luz no fim do túnel?

Ai se eu pego algum descendente do Dom João VI...

Um comentário:

Alvaro Neto disse...

Não dá pra desejar tudo dos bancos, muito menos que pensem nas pessoas.