quinta-feira, 1 de outubro de 2009
E a tampa da panela?
Derrubada por uma febre, passei um dia inteiro em casa, lendo, vendo televisão e fazendo quase nada. Pois nesse dia, um filme e um livro me inspiraram a questionar as cobranças que sofremos por parte da família, dos amigos, da sociedade e, pior ainda, de nós mesmos. Tema sempre recorrente em nossas vidas e, claro, também por aqui!
O livro aborda sutilmente o envelhecer para falar da importância de ligarmos para o destino. De dar bola para os sinais que vão aparecendo, para os sentimentos e para o que meu namorado chama de “fluxo das coisas”, deixando em segunda opção as cobranças que nos fazem, tantas vezes, desviar de caminhos, de histórias, de roteiros de vida.
O filme era bem bobinho, desses americanos que pareciam feitos sob encomenda para a televisão mesmo, mas levantava um bom debate sobre o futuro das mulheres. Por que cargas d’água, afinal, temos de casar, ter filhos, sucesso profissional e ainda por cima nos mantermos lindas e desejáveis- apesar disso tudo?
Passou dos trinta então, vira e mexe alguém pergunta: e aí, ta namorando, já casou? Ninguém quer saber se você conseguiu uma promoção, que está escrevendo um livro, que pagou a viagem dos seus sonhos, que está procurando apartamento. Tudo se resume a cobranças sócio-morais.
Se está namorando, morando junto ou casou, então, é batata. Passa-se para o estágio seguinte: quando vão ter filhos? Como se fosse uma obrigação tê-los, assim que achamos a tampa da panela. Ora, penso que se tivemos a sorte de achá-la, filhos devem vir depois de passearem muito juntos, depois de namorarem muito, de viverem, se conhecerem, de planejarem, e, claro, o mais importante, se quiserem.
No tal do filme, a protagonista se irritava com todas essas regras impostas e, ao cansar de receber convites de casamentos de amigas- cobertos de indiretas sobre quando chegaria a sua hora -, elegia uma data para celebrar o casamento consigo mesma, promovendo uma verdadeira festa de casamento sem noivo. É, claro que houve muita confusão, senão o enredo ia se esvair, mas a verdade é que, sim, não precisamos seguir as regras para nos sentirmos felizes e realizados. Tampouco ter vergonha de não desejar- pelo menos por enquanto - uma vida de comercial de margarina.
O par ideal é, como a palavra já diz, fruto de uma idealização. Pode vir a existir, mas também pode nunca aparecer. E nem por isso homens e mulheres devem parar suas vidas, vestirem-se de preto como se vivessem em luto eterno ou se considerarem menos afortunados do que os outros. Cada um vive da maneira que dá e o enredo não é estático, certo? Graças a Deus. E conhecer gente, lugares e situações é bom de mais, certo?
Portanto, em dias chuvosos e frios como o de hoje por aqui, quando o desânimo praticamente empurra a porta, devemos pensar que é uma dádiva poder olhar para a chuva, sentir o vento gelado no nariz e agradecer por estarmos na luta!
Se a panela está sem tampa, dá-se um tempo e segue-se em frente! Os outros, que preocupem-se mais com suas vidas! E se a panela tem tampa, a palavra de ordem é curtir e aproveitar o hoje, para, se for do fluxo das coisas, entrar feliz da vida no amanhã, certo? Sem cobranças.
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5 comentários:
Como sempre, o texto está maravilhoso e nos faz pensar muuuito. Beijo.
... já tô na onda do "panela véia é que faz comida boa"... empolgada pelo seu maravilhoso texto..hehehe
beijos, meus queridos
Certooooo!! Mas não vai me arrumar uma panela de pressão, heim? :P
A panela é o veículo da alquimia. E estes teus textos... transformam metal em ouro!
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