terça-feira, 12 de maio de 2009

Apartheid arquitetônico


Tive a intenção de escrever antes sobre o tema, mas acabei me perdendo e não o fiz. O assunto em questão é o absurdo do projeto de construir muros separando as favelas do Rio dos demais bairros. Um apartheid arquitetônico e pronto, tudo resolvido!

A solução apresentada beneficia a população dos bairros nobres, já que o muro seria feito entre as favelas e os bairros ricos. Pronto! Segregação que já ocorria na cabeça das pessoas, agora será institucionalizada e arrematada com massa corrida.

O assunto acabou caindo na ONU e causou, graças a Deus, constrangimento ao governo brasileiro. Durante uma reunião de apresentação dos projetos sociais que vêm sendo implantados no país, um dos técnicos da ONU questionou a medida à delegação brasileira e condenou a ação que, segundo ele, estaria causando uma “discriminação geográfica”.

Pelo projeto do governador Sérgio Cabral, 11 favelas cariocas deverão ser cercadas por muros até o final do ano. A primeira será a Dona Marta, em Botafogo, que ficou famosa por servir de cenário para a gravação de um clipe do Michael Jackson e era liderada pelo traficante Marcinho VP, personagem principal do livro Abusado, do jornalista Caco Barcellos. Por lá, a obra já começou e está prevista a construção de uma barreira de 600 metros separando a favela da mata.
Uma das mais violentas do Rio, a favela está ocupada pela Policia Militar desde o fim do ano passado e voltou aos noticiários no início de 2009, devido à instalação de uma rede wireless gratuita no morro, para uso da comunidade.
O governo já licitou obra semelhante para construir seis quilômetros de concreto ao redor dos morros da Rocinha e Chácara do Céu e Pedra Branca. No entanto, a Defensoria Pública informou que pode tomar medidas para impedir a instalação das barreiras de concreto.

Onde está com a cabeça o governador fluminense? Como achar que limitando os direitos da população do Santa Marta vai resolver a violência, a criminalidade e minimizar o tráfico? Ninguém aqui é favorável ao crescimento irregular das favelas, mas daí a separá-las das “belezas” do Rio, é agravar um problema social que está no cerne da formação do Rio e de tantas capitais brasileiras.
Apesar de admitir que está ciente da polêmica e das controvérsias, o governo tenta frisar que a lógica do projeto é ambiental e que os muros não irão cercar totalmente as favelas. Que vergonha...

Nenhum comentário: